Autor: Boaz Rios
Satisfações e insatisfações fazem parte do nosso cotidiano. Aspirações, vontades e desejos, despontam no íntimo das pessoas, de forma que o prazer, a alegria, a satisfação, condicionam-se ao que, e como foi definido o desejo.
Desejo e satisfação, desta forma, são sentimentos inerentes aos seres humanos em todo e qualquer momento da vida. O desejo é entendido, num primeiro sentido, como voto e aspiração, e em outro sentido, como prazer e vontade. O desejo não se confunde com necessidade, é um saber não sabido, um enigma que se traduz numa vontade, de modo que o desejo ocorre por consequência de uma falta, uma satisfação reprimida ou sufocada ( ver Freud).
Por outro prisma, Soren Kierkegaard entende que o desejo é consequência de uma falta, ocasionada por um distanciamento de Deus, e somente em Deus, o ser humano se completa. Na caminhada, ou no esforço de alcançar a satisfação, o desejo apresenta-se em estágios: o desejo estético, o ético e o religioso. Somente este último, pode superar as deficiências dos demais, pois coloca o ser humano diante do "EU" eterno, a plena satisfação ao encontrar-se em Deus.
O desejo e a satisfação são dois sentimentos reciprocamente ligados numa dependência mútua, de modo que, a alteração na intensidade de um, caso não se reflita na resposta do outro, fatalmente causará um desequilíbrio emocional. Perceber-se-á uma falta, uma carência, ou seja, sentimento que demonstra a incapacidade de corresponder, ou satisfazer, ao desejo manifestado ou percebido.
A satisfação, por outro lado, é a alegria, o prazer, de perceber, desentir, deprovar o sabor da realização do que se esperava, enfim, a satisfação do desejo. Persiste a interdependência, pois a satisfação inibe o desejo, enquanto que a insatisfação leva o desejo ao patamar de frustração, de prazer inatingível.
Esta interrelação se consolida e se equipara, na medida em que a satisfação espera um comportamento ou uma intensidade de desejo que lhe seja compatível, enquanto que o desejo espera e anseia ser satisfeito na mesma forma e em igual intensidade.
Os Cânticos de Salomão nos oferece um poema no qual desejos e satisfações são apresentadas no sentido de interdependência, de contentamento recíproco, que não sufoca o desejo, mas que, de igual forma, não frusta a satisfação. Salomão constrói seu diálogo com a mulher amada, e expõe um detalhamento doce e natural de cada parte, objeto do seu desejo: olhos, boca, cabelos, lábios, perfume, enfim, tudo que singularizava a pessoa amada dentre as demais. Um deleite por desfrutar da presença e compartilhar o amor.
A relação entre Desejo e satisfação fica clara no capítulo 2, versículo 7, quando a esposa diz: "Conjuro-vos, ó filhas de Jerusalém, pelas gazelas e cervas do campo, que não acordeis, nem desperteis o amor, até que este o queira". O amor tem o tempo certo de maturação, de estar pronto, um desejo certo para cada momento de satisfação, e uma satisfação correspondente a cada momento de desejo. De modo que, no momento certo, ele será pleno.
É preciso observar a voz do amor, desfrutar da expectativa pela sua chegada, gozar a expectativa na medida, na intensidade certa pela chegada do amor. Uma ansiedade descontrolada provoca erros, precipitações, e consequências desastrosas.
No tempo certo, colhem-se os frutos. Chega a época que o amor frutifica, é o tempo de Deus, onde tudo é abundante e satisfaz completamente. Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor (Oséias 6:3), Ele nos aproxima de nós mesmos, e, fazendo-se conhecer, desvenda nosso próprios mistérios, revela nossos desejos, totalmente saciáveis pela perfeita criação. Aparecem as flores, as figueiras dão frutos, as flores exalam seu perfume, e a vida revela a satisfação, o prazer.
Vem os perigos, provas para testar a pureza do sentimento. Raposas querendo estragar as vinhas (vs. 15). Dificuldades e frustrações, ameaças de dentro e de fora, ardis que tentam interferir na relação harmoniosa. Todavia, reafirma-se a certeza de pertencimento. Algo que não muda, não existe dúvida nem desconfiança: "o meu amado é meu e eu sou dele". Não há divergência entre desejo e satisfação, quando se tem a certeza de pertencimento, por isso, a sua afirmação, mesmo que ainda incerta, revela um passo de fé.
Assim, o amor resolve a questão entre desejo e satisfação, sobrepondo-se ao olhar arrogante dos aproveitadores, que utilizam as pessoas como coisas, ou, simplesmente, vivem relações baseadas em convenções morais. Somente Deus, através do seu amor, promove a plena satisfação dos nossos desejos.
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