sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

A Política cristã entre altos e baixos

Os cristãos desempenham um papel na política brasileira que transita nos mesmos passos oscilantes da participação da própria sociedade. Digo isto, porque em momentos de maior participação popular, encontraremos evangélicos marcando posições. Todavia, quando a participação popular se esvazia, ou quando é forçosamente esvaziada, as participações evangélicas desaparecem ou se ocultam. Parece cada vez mais distante a designação que marcou o movimento da Reforma, ou seja, protestar frente ao status quo, contrapor-se ao poder dominante.

Num posicionamento contrário e marcante, menciono o Rev. Eduardo Carlos Pereira, fundador da Igreja Presbiteriana Independente, que, ainda diante da prática escravocrata brasileira, declarou com convicto destemor no jornal "O Estandarte" ser a escravidão incompatível com a fé cristã. A partir da década de 1960 vários pastores e líderes foram perseguidos e silenciados diante do golpe protagonizado pelos militares à democracia brasileira. Infelizmente, diante da perseguição aos direitos democráticos e legítimos da sociedade, a igreja evangélica silenciou-se. Não percebi, de modo mais explícito, a colaboração da igreja evangélica no processo de redemocratização, a não ser, algumas referências vergonhosas sobre supostos votos de parlamentares evangélicos que apoiaram a ampliação do mandato de Sarney.

Estamos, agora, numa nova era. Nesses últimos tempos ocorreu uma retomada do interesse eclesiástico pelos assuntos inerentes à política. Muitos evangélicos colocam-se como candidatos em diferentes partidos e alguns partidos denominam-se como cristãos, a exemplo do PDC e PSC. Sempre acreditei no evangelho que transforma, afinal são as boas novas de grande alegria, ou no dizer do apóstolo Paulo: "Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação" (Romanos 1:16).

Não tenho dúvidas: O poder de Deus não sofre limitação de nenhuma ordem, tão pouco seria ineficaz no ambiente político. Ainda que olhemos para o ambiente político e o consideremos corrupto e inóspito, mesmo assim, a ação do evangelho é capaz de renová-lo. O absoluto poder de Deus atua por dentro do sistema ou por fora dele, bastando que existam testemunhas fiéis que não se deixem contaminar pelas finas iguarias do rei (Daniel 1:8). A influência regeneradora do evangelho que alcança a sociedade independe de apoio ou permissão governamental, mas também, independe da posição sectária que distancia-se da política.

Quando falo em política, não me refiro aquela que se desenvolve somente no ambiente partidário, mas estende sua atuação para todos os setores da sociedade a fim de alcançar dois objetivos: 1) construir um consenso na sociedade; 2) Transformar esse consenso em poder hegemônico. Portanto, a tarefa cotidiana da política é a do convencimento. Divulgar e debater idéias que sejam transformadoras para a realidade social caótica e desesperançosa.
Na língua inglesa há diferença entre os termos: Policy - Política internacional, de saúde, educação, desenvolvimento social, etc.; e, Politics - Debate parlamentar ou disputa pelo poder. Não encontramos esta distinção na língua portuguesa, em todo caso, parece cada vez mais difícil dialogar na sociedade do ponto de vista da construção de políticas de interesse social e, raramente, encontraremos tais discussões dissociadas das manipulações partidárias.

A influência cristã, entretanto, pode estar presente na política que se constrói no âmbito dos partidos e da atuação governamental, como também, na forma como os temas importantes da sociedade são tratados e analisados do ponto de vista da ética cristã e dos ensinamentos bíblicos. Trata-se, neste último caso, da influência cristã nas políticas, que somente será alcançada com a abertura de diálogos temáticos nos diversos espaços, presenciais ou não presenciais, que confrontem as inquietações da sociedade com as verdades bíblicas. Mesmo que admitamos ao cristão não envolver-se com a política (poder), de maneira alguma aceitaríamos que ele não se envolvesse com as políticas, pois trata-se efetivamente da manifestação do comportamento cristão, ou seja, ser sal e ser luz, ou no dizer do apóstolo Paulo: "Exalar o bom perfume de Cristo" (2 Coríntios 2:15).

O Próprio Mestre advertiu sobre o perigo e as consequências da atitude incoerente, seja quando nega as qualidades inerentes ao caráter cristão (neste caso, o sal torna-se insípido), ou quando se exime de revelar as verdades do evangelho (neste caso, a luz é escondida). Nosso Senhor conclui afirmando que, no primeiro caso, a falta de sabor deixa o sal sem nenhum valor e que, no segundo caso, a luz deve ser colocada de modo a iluminar toda a cidade.

É nesta perspectiva que o evangelho propaga-se como o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê. Pode-se perceber sua atuação em grupos de empresários zelosos por políticas que estimulem o desenvolvimento econômico, por grupos de jovens que discutam melhorias no sistema educacional, por mulheres que se associam contra abusos e violências, pela prática da ação social por igrejas e ONG's, e assim por diante.

Remodelar as estruturas corrompidas da política nacional é o desafio que se apresenta para a igreja cristã. Seja no poder, ou fora dele, o testemunho cristão autêntico profetisa, denunciando as injustiças sociais, reaviva as esperanças, numa mensagem propositiva de relações mais equilibradas na sociedade. Acreditando, sempre, no valor e poder do evangelho, que muda o caos em benção, como diz o salmista, passa pelo vale árido e transforma-o em manancial.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Igreja: Resignificando a vivência na comunidade cristã

Ao ler o artigo " Decepcionados com a Igreja" (http://cristianismohoje.com.br/interna.php?id_conteudo=596&subcanal=30) , refleti a respeito de sentimentos que nos pertubam constantemente. A Igreja que frequentamos, cujos membros chamamos carinhosamente de irmãos, seria realmente a Igreja de Cristo? Queremos acreditar que sim! E isto fazemos constantemente, afirmando que formamos o Corpo de Cristo, que comungamos do mesmo pão e do mesmo sangue, ou na visão orgânica do apóstolo Paulo, que somos partes indispensáveis do mesmo corpo.

Normalmente o que se chama de Igreja é a instituição, criada como instrumento ou meio de viabilizar a missão de Cristo: Ide por todo o mundo e pregai... Assim, costuma-se defender e aprimorar a máquina instrumental, meio operacionalizador da efetivação missionária sem o qual, alguns entendem, a missão sucumbiria. Neste entendimento, a igreja chegou ao ápice de sua importância institucional, sendo símbolo de poder e riqueza durante o período da idade média, bem como, monopolizando a salvação e as bençãos divinas.

Mesmo com a Reforma Protestante não se desconstruiu a relevância institucional. Igrejas Reformadas, porém, institucionalmente fortes, espalharam-se pelo mundo preocupadas em desfazer o Cristianismo formalizado e distante da doutrina bíblica. Em seu lugar, pregou-se o Cristianismo autêntico, centralizado na Escritura sagrada, mas igualmente institucionalizado.

A institucionalização não é fenômeno exclusivo do meio eclesiástico, mas apresenta-se como forma de operacionalização das necessidades e desejos em praticamente todos os aspectos da vida humana: nascemos, vivemos e morremos em instituições. Na verdade, procuramos sempre as melhores formas de fazer, porém, não cogitamos a possibilidade da inexistência das formas ou das instituições. Mesmo quando simplificamos, logo queremos regras que discipline a simplificação. Estamos diante de uma relação simbiótica na qual instituições e regras são criadas para que governem sobre nós, obrigando-nos a cumprir condições para alcançarmos aquilo que previamente definimos como desejável. Ás vezes alcançamos objetivos verdadeiros e autênticos, porém, frequentemente contentamo-nos por apenas cumprir o mero ritual.

A institucionalização, enfim, invade todas as esferas da vida e, às vezes, parece ser mais importante do que o fim que ela mesmo pretende. Nesse momento ela domina, exige tudo para si e esgota todos os recursos. Experimentamos, então, as suas consequências: distanciamento dos objetivos, ativismo improdutivo, uniformidade de propósitos, padronização de costumes e atitudes, rotinas e mais rotinas desprovidas de objetividade, de sabor e de vida.

Sem dúvida, a vida abundante prometida por Jesus Cristo está além das instituições. Caso pensássemos diferente, afirmaríamos a perfeição das instituições e das formas, ou seja, a possibilidade de perfeitamente traduzirmos em ações humanas as grandezas do reino espiritual. Quanto a isto, afirma o apóstolo Paulo: "Mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado" (1 Cor. 13, vs. 10).

Vivemos, portanto, num tempo do conhecimento "em parte", não importando a forma pela qual manifestamos nosso relcionamento com Deus. Olharemos, sempre, como por um espelho, obscuramente, mesmo que não existam instituições.

Como ocorreria, então, a resignificância da nossa vivência na comunidade cristã? Dois são os caminhos: O primeiro, é a própria intervenção divina através do avivamento da igreja, como já ocorreu no passado, com a visitação infalível e poderosa de maneira abudante e especial do Espírito Santo de Deus; O segundo, é a busca constante e insistente em amar a Deus de todo o coração, de toda a força e de todo o entendimento, e amar ao próximo como a si mesmo. Então, esta é pergunta que faço na igreja ou fora dela: Estou amando a Deus e ao meu irmão?

Veja que não se fala em amar a instituição, mas, amar a Deus e ao irmão. A instituição "igreja" é, portanto, um meio, um instrumento que auxilia na prática do amor a Deus e ao irmão, e não deve ser servida, mas servir. Precisamos de igrejas mais simples, que exijam menos recursos e esforços dos seus membros para a sua manutenção. Precisamos de líderes menos orgulhosos e arrogantes, que exerçam ministérios íntegros, irrepreensíveis, temperantes, sóbrios, modestos, hospitaleiros e não cobiçosos de torpe ganânica (I Timóteo 3:2 e Tito 1:7).

A igreja, portanto, deve ajudar a amar, a desenvolver o ministério ou dom dispensado pelo Espírito, para a abençoar a vida de alguém que, indubitavelmente, aguarda por um socorro. Isto é vida: acreditar que nos galhos secos de um árvore qualquer, o Criador faz brotar uma flor.

Boaz Rios (Novembro/2010)

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

ESTATUTO DO IDOSO: REFLEXÕES E CONSEQUÊNCIAS

ESTATUTO DO IDOSO: REFLEXÕES E CONSEQUÊNCIAS

1. INTRODUÇÃO

O Estatuto do idoso, Lei 10.741 de 1º de outubro de 2003, é o instrumento que legalmente traduz o sentimento da sociedade brasileira quanto aos direitos considerados imprescindíveis à vida plena daqueles que trazem em si as marcas históricas de contribuição à construção da nação, conforme preceitua o art. 1º da referida lei: “É instituído o Estatuto do Idoso, destinado a regular os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos”.

Tal instituto, de muito, já havia sido reclamado pela sociedade e, em particular, pelos movimentos populares interessados no tema. Tal preocupação justifica-se pela vulnerabilidade natural a que se submetem as pessoas detentoras de idade avança, seja ao tratar-se de questões de ordem financeira, como a limitação do mercado de trabalho e a diminuição da capacidade produtiva (na concepção capitalista de mundo), ou, por outro lado, ao referir-se aos aspectos sociais relacionados à convivência, à saúde, à locomoção e acessibilidades, ou mesmo, quando alude a temas mais subjetivos, relacionados à atenção, ao cuidado, ao afeto, ao sentimento de pertencimento e de significância no ambiente familiar, grupos sociais ou na sociedade de um modo geral.

Abordaremos, neste trabalho, certos aspectos evidenciados com a aprovação da Lei 10.641/2003, intitulada Estatuto do Idoso, explicitando em parte, o que este instrumento legal ressaltou na sua tentativa de atender à demanda social.

2. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICO-SOCIAL DO ESTATUTO DO IDOSO

Quando tratamos dos temas relacionados aos idosos é comum ressaltarmos a evidente contribuição histórica dada por eles à construção da sociedade nos aspectos econômico, social e cultural. Definitivamente não poderia ser diferente, os idosos certamente contribuíram para o realidade que presenciamos, porém, não poderíamos limitar tal contribuição ao passado, como se fossem pessoas que não existem mais. Tal visão, cercada de honrarias e de mérito de fatos passados, encerra na verdade uma distorção cruel: o idoso fez (passado) o que já não faz (pressente).

Essa realidade cruel afeta a qualquer ser humano, ou seja, encontrar-se no fim da sua carreira, no fim da sua expectativa do fazer, do realizar. Deparar-se, por outro lado, com o vazio de nada produzir, de nada preocupar-se, de nada querer, quando se acostumou à vida inteira em ser útil. Isto porque, a grande maioria não compreende o olhar filosófico de Rubem Alves quando no texto Ficar Velho, diz: “Mas a melhor coisa que pode acontecer na velhice é voltar a ser criança. Os velhos, tolos, querem continuar a ser úteis. Coitados! Ainda estão sob o domínio do olhar dos outros! Melhor seria se percebessem que o objetivo da vida não é ser útil. Útil é martelo, serrote, vassoura, fio dental, bicicleta. As coisas úteis, quando velhas, ficam inúteis. Inúteis, são jogadas fora. Mas o objetivo da vida não é a utilidade. É a feliz inutilidade do brincar”.

Em todo caso, seja buscando a utilidade ou o direito a não ser útil, mas ser simplesmente feliz, o estado lastimável em que se encontravam os idosos e a inseparável sensação de ser uma caminho a ser trilhado por todos, fizeram com que o direito já positivado na Carta Magna de 1988 fosse regulamentado, conforme preceitua a art. 230 da CF: “Art. 230 - A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida”.

Tal afirmação, na prática, não se evidenciava em políticas públicas concretas que garantissem a dignidade e o bem-estar prometidos, tão pouco, oferecessem a proteção aos idosos ante a discriminação, desrespeito, abandono ou violência ocasionados pela própria população aos seus idosos.

Por outro lado, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE evidenciam que a população brasileira tem envelhecido, ou seja, o Brasil que era um país de jovens, atualmente tem reduzido a sua taxa de natalidade e aumentado a expectativa de vida, o que resulta numa população progressivamente mais idosa. Os reflexos desta constatação foram percebidos pelos idosos que sofreram com as reações dos setores público e privado quanto a fatores como: previdência, planos de saúde, atendimento preferencial, etc.

A edição de lei infraconstitucional através da aprovação do Estatuto do idoso, sendo de iniciativa do Projeto de lei nº 3.561 de 1997 de autoria do deputado federal Paulo Paim, originou-se da organização e mobilização dos aposentados, pensionistas e idosos vinculados à Confederação Brasileira dos Aposentados e Pensionistas (COBAP), convertendo num grande avanço para os idosos e para a conscientização e transformação de toda a sociedade.

3. INOVAÇÕES E CONTRIBUIÇÕES DO ESTATUTO DO IDOSO

A Lei 10.641/2003 está dividida em sete títulos, sendo: I – Disposições preliminares; II – Dos direitos fundamentais; III – Das medidas de proteção; IV – Da política de atendimento ao idoso; V – Do acesso à justiça; VI – Dos crimes, e; VIII – Das disposições finais e transitórias.

De início, a Lei atribui como obrigação da família, da comunidade, do Estado e de toda a sociedade a garantia do idoso do direito à vida, direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária (art. 3º). Como também, determina que tais direitos sejam efetivados levando em consideração a garantia de prioridade.

Quanto aos direitos fundamentais, a Lei estabelece políticas preferenciais e específicas que são explicitados nos seguintes capítulos: I – Direito à vida; II – Direito à liberdade ao respeito e à dignidade; III – Alimentos; IV – Saúde; V – Educação, cultura, esporte e lazer; VI – Profissionalização do trabalho; VII – Previdência social; VIII – Assistência social; IX – Habitação; X – Transporte.

Em seu art. 43, a Lei estabelece que as medidas de proteção serão aplicáveis: I - por ação ou omissão da sociedade ou do Estado; II - por falta, omissão ou abuso da família, curador ou entidade de atendimento; III - em razão de sua condição pessoal. O poder Judiciário poderá agir provocado pelo Ministério Público ou mesmo pela própria parte ofendida.

Em se tratando de medidas de acesso à justiça, o Estatuto do Idoso possibilita a criação de varas especializadas, determina o rito sumário e prioriza a tramitação dos processos. Existe a obrigatoriedade de intervenção do Ministério público, que será convocado pessoalmente. Além do parquet, são legitimados para interpor ações: A união, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; A Ordem dos Advogados do Brasil; e, por fim, associação legalmente constituída a mais de um ano, que tenha em entre os fins institucionais a defesa dos interesses e direitos da pessoa idosa.

A Lei traz em seu sexto título as implicações criminais, cujas penas restritivas de liberdade não ultrapassam a quatro anos, sendo aplicada a Lei dos juizados especiais (9.099/95), aplicando-se, subsidiariamente o Código Penal e o Código de processo Penal.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pelo que brevemente expomos, percebe-se tratar de um importante instrumento balizador das políticas públicas, orientador das condutas da sociedade quanto aos idosos, bem como, disciplinador no que se refere às penalidades previstas e à brevidade em que se pretende apurar os fatos ocorridos e punir os culpados.

Mas tal constatação não assegura a real observância do direito à vida, ao bem-estar ou à dignidade, conforme preceitua o dispositivo legal. Contribui para o não cumprimento: As limitações do orçamento público; A concorrência de outras prioridades governamentais; A privatização da saúde pública e a conseqüente necessidade de lucro; e, por fim, o lento e danoso processo de conscientização da sociedade.

Caso o conceito de utilidade não fosse tão presente na sociedade, quem sabe, os idosos se sentiriam bem mais confortáveis para uma vida prazerosa. Quem sabe, se a inutilidade ou se o ócio criativo, como no dizer de Domenico De masi, não fosse capaz de produzir graciosa felicidade; Quem sabe, se a tolerância tomasse o lugar da arrogância, a reflexão superasse ao determinismo, a bondade sobrepujasse a ambição; Quem sabe, haveria lugar para todos, crianças ou idosos, não importando a idade, não importando o quanto produz de riqueza, mas o quanto integra no tecido de uma sociedade de justiça e equidade.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Diagnóstico Organizacional

O diagnóstico organizacional deve ser a representação mais fiel da situação real, permitindo que, a partir de uma nova perspectiva, a organização possa alcançar os seus objetivos. Deve-se evidenciar a visão estratégica da organização, elencando diretrizes, planos e metas, bem como, identificando, e se possível, neutralizando os fatores inibidores do avanço ou desenvolvimento organizacional.

A realidade das organizações e suas precariedades serão compreendidas a partir da identificação de sintomas. Estes refletem a existência de debilidades, fraquezas, ou mesmo, tendências danosas que exigem intervenções preventivas e/ou corretivas.

Daí, portanto, a importância do papel desempenhado por aquele que conduz o processo de diagnóstico organizacional. Caberá a ele promover um ambiente propício à sensibilidade situacional, adotando uma postura investigativa discreta, perceptiva, inquisitiva e bastante realista do objeto estudado.

A organização como um todo, deve empenhar-se no processo, num clima propício de abertura e comprometimento, no qual todos os integrantes, inclusive, diretores e pesquisadores, sintam-se partes do mesmo objetivo.

Ao pesquisador cabe, ademais, uma preparação teórica que fundamente os passos a serem seguidos e contribua para melhor perceber a realidade organizacional, numa leitura propositiva, que intervenha e determine um novo curso de ações, que otimize os recursos e promova resultados sustentáveis.

ETAPAS DO DIAGNÓSTICO

  1. Organização – Estabelecer a estratégia de atuação, através de reuniões nas quais se definam os papéis de todos os participantes, a duração, a estrutura e o custo dos trabalhos;
  2. Orientação – É uma fase exploratória pela qual se obtém dados que levam ao conhecimento histórico pela observação do passado e do presente daquela instituição. Além da análise do ambiente interno, é necessário que seja observado o ambiente externo para um estudo de cenários, de ambiente competitivo, como também, de experiências exitosas de outras organizações que possam ser aplicadas a esta realidade.
  3. Direcionamento – Estabelecimento de critérios com o nivelamento das informações entre todos, selecionando, organizando e sintetizando todos os dados.
  4. Plano de Ação – Firmar compromissos, estabelecer prazos e definir metas.
  5. Avaliação – Monitorar os resultados, reexaminar os caminhos traçados e adaptar os planos.

ASPECTOS IMPORTANTES DO AMBIENTE INTERNO DE UMA ORGANIZAÇÃO

ASPECTOS ORGANIZACIONAIS

ASPECTOS DE PESSOAL

Rede de comunicação

Estrutura da organização

Registro de sucessos

Hierarquia de objetivos

Política, procedimento e regras

Habilidade da equipe administrativa

Relações trabalhistas

Práticas de recrutamento

Programas de treinamento

Sistema de avaliação de desempenho

Sistema de incentivos

Rotatividade e absenteísmo

ASPECTOS DE MARKETING

ASPECTOS DE PRODUÇÃO

Segmentação do mercado

Estratégia do produto

Estratégia de preço

Estratégia de promoção

Estratégia de distribuição

Layout das instalações da fábrica

Pesquisa e desenvolvimento

Uso de tecnologia

Aquisição de matéria-prima

Controle de estoques

ASPECTOS FINANCEIROS

Liquidez

Lucratividade

Atividades

Oportunidades de Investimentos

Fonte: CERTO (1993).

Referências:

CERTO, S. C. Administração Estratégica: Planejamento e implantação da estratégia. São Paulo: Makron Books, 1993.

OLIVEIRA, Djalma de P. Rebouças de. Planejamento Estratégico: Conceitos, metodologia e práticas. São Paulo: Atlas, 2010.

Gestão Pública: Política, Estado e Governo


1. Conceito: A palavra política é originária do grego pólis (politikós), e se refere ao que é urbano, civil, público, enfim, ao que é da cidade (da pólis). Consiste na forma de articulação e convivência dentro de uma organização social. Por sua vez, Organização social, é qualquer ajuntamento humano que tenha um objetivo comum, enfatizando que a "organização social implica algum grau de unificação, ou união de diversos elementos numa relação comum" (IANNI, 1973, p. 41). A atividade política está associada, também,  a uma forma de atividade humana relacionada ao exercício do poder. Uso da política para a manutenção do poder. O poder gera privilégios para os seus detentores e associados. Política difere de Governo, muito embora ao governar, ou mesmo ao pleitear o governo, as pessoas utilizam-se necessariamente da política. Governo significa:
· Ciência do governo dos povos. Maneira hábil de agir.
· Governar envolve: conduzir, regular, promover e proteger.
  • ESTADO: Trata-se de uma entidade abstrata; “É soberano e está encarregado de representar ou expressar a coletividade; possui um quadro jurídico e administrativo, que define suas regras organizando as formas da existência social; e se constitui na instância governamental que, em última análise, toma decisões referentes aos negócios comuns” (Chatelet, 1983 in Matias-Pereira, 2008). 
2. Evolução histórica
· Pensamento Grego - Aristóteles e Platão  : Para Aristóteles, o homem é um animal social por natureza, que desenvolve suas potencialidades na vida em sociedade, organizada adequadamente para seu bem estar. “Em todas as ciências e artes o fim é um bem, e o maior dos bens e bem no mais alto grau se acha principalmente na ciência toda-poderosa; esta ciência é a política, e o bem em política é a justiça, ou seja, o interesse comum” (política, 1283ª, Livro III, cap. VII, apud MATIAS-PEREIRA, 2008): Elementos constitutivos do Estado: a) Governo formado por membros da elite política; b) Burocracia ou tecnoburocracia pública; c) Força policial e militar; d) Ordenamento jurídico impositivo.
     Na República de Platão, o governo seria exercido por pessoas inspiradas pelo bem comum.  A República deveria ser dividida em três grupos sociais, à semelhança das almas dos indivíduos: os filósofos, grupo dirigente que corresponde à alma racional; os guardiães ou soldados, encarregados da defesa da cidade, correspondendo à alma irascível; e os produtores (agricultores e artesãos) comparados à alma concupiscível.

· Maquiavel (1469-1527): A recusa da prevalência dos valores morais na ação política sinaliza um novo conceito. Maquiavel propõe uma ciência política independente, se afastando do pensamento grego preso à idealização de um governante virtuoso, bem como, distanciando-se do pensamento medieval controlado pelo catolicismo romano. Para Maquiavel, o governo se estabelece pelas armas ou pelo voto.  “os homens amam conforme sua vontade e temem conforme a vontade do príncipe, um príncipe sábio deve se apoiar naquilo que depende de sua vontade e não naquilo que depende da vontade de outros”. A visão pragmática da política faz com que o governante aproveite as oportunidades para conquistar e manter o poder. Maquiavel funda uma nova moral, a moral mundana que se forma a partir dos relacionamentos dos homens, ou seja, a moral do cidadão que constrói o Estado.

Contratualitas:

· Thomas Hobbes (1588-1679): Os homens em seu estado natural vivem como animais, jogando-se uns contra os outros pelo desejo de poder, riquezas e propriedades. Para evitar a autodestruição, é necessário um acordo, um contrato, que imponham limites às próprias atitudes egoístas. O Estado, para Hobbes, se apresentava como Senhor absoluto, cabendo aos cidadãos ou súditos a obediência sem questionamentos, pois este funcionava como uma ordem absoluta e controladora, com o objetivo de tirar os homens da guerra de todos contra todos.
· John Locke (1632-1704): O nascimento do Estado é um ato de liberdade de decisão e princípio de sobrevivência e preservação. Almeja unir-se em sociedade com outros que já se encontram reunidos ou projetam unir-se para a mútua conservação de suas vidas, liberdades e bens. O contrato social permite superar o estado de natureza, estabelecendo a liberdade e a igualdade entre todos, para que a lei seja aplicada igualmente. Esse contrato não gera um poder absoluto para o Estado, pois pode ser desfeito por aqueles que o firmaram, e o Estado não pode tirar o poder supremo sobre a propriedade individual. Acontece a separação entre o que é político (público) e o que é civil (propriedade particular).
· Jean-Jaques Rousseau (1712-1778): No livro Do Contrato Social, Rousseau argumenta que o homem era naturalmente bom. No estado de natureza o homem se apresenta como o bom selvagem, e o mal que existisse deveria ser atribuído à própria sociedade. O homem abre mão da sua liberdade em favor do Estado, ou seja, cada individuo está obrigado a ser livre. O homem só pode ser livre se for igual. O povo nunca pode perder a sua soberania, por isso não pode criar um Estado distante de si mesmo. O único órgão soberano é a assembléia do povo.

Pensamento Comunista:
· Marx (1818-1883): Oposição entre classe dominante e classe dominada. Os meios de produção são de propriedade da classe dominante que explora o trabalhador ao lhe pagar um salário aquém do real valor alcançado pela produção. Esta diferença é o lucro, que na teoria Marxista é a apropriação do valor que deveria ser pago ao trabalhador, chamado de "mais-valia". Sua doutrina objetivava acabar com a propriedade privada e, por fim, com o próprio Estado. 
Nicos Poulantzas, a partir de Marx e Lênin, e da teoria da luta de classes, chama de poder “a capacidade de uma classe social de realizar os seus interesses objetivos específicos”.
· Engels (1820-1895): “O Estado é, um produto da sociedade quando esta chega a determinado grau de desenvolvimento; é a confissão de que essa sociedade se enredou numa irremediável contradição com ela própria e está dividida por antagonismos irreconciliáveis que não consegue conjurar. Mas para que esses antagonismos, essas classes com interesses econômicos colidentes não se devorem e não consumam a sociedade em uma luta estéril, faz-se necessário um poder colocado acima da sociedade, chamado a amortecer o choque e a mantê-lo dentro dos limites da ordem. Este poder, nascido da sociedade, mas posto acima dela, e dela se distanciando cada vez mais, é o Estato”

3. Tarefas para a atividade política:
· Obter consenso da sociedade civil;
· Transformar este consenso em poder de direção hegemônico.

4. Considerações finais:
·       O exercício do voto constitui um objetivo político para demandas da sociedade. O voto    representa uma vontade popular, uma escolha da maioria. O que pode parecer uma nova forma de tirania (muitas vezes chamada ditadura da maioria) é inegavelmente a forma mais justa encontrada pelas civilizações para a escolha dos seus representantes.
· Nem sempre as propostas políticas satisfazem os interesses da sociedade; A expressão popular se dá não só através de partidos e candidatos.
· A vivência em comunidade determina a necessidade de criação de espaços de negociação e articulação. É preciso mais do que pensar a política como um espaço para partidos, negociatas, jogos de poder escusos, a política é acima de tudo o ambiente para o exercício da cidadania e espaço para argumentação. Buscar consensos, caminhos que sejam os mais interessantes e equânimes para todos fazem parte da arte de fazer política.

Referências:
MAAR, Wolfgang Leo. O que é política. 16ª Ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.
Matias-Pereira, José. CURSO DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: Foco nas Instituições e Ações Governamentais. São Paulo: Atlas, 2008.