terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Descansar ou seguir em frente?

Boaz Rios

Quando os Judeus ocuparam o território de Israel expulsaram alguns povos, mas conviveram com outros, inclusive formalizando acordos, contraindo matrimônios, mesmo não sendo permitido por Deus. Esta relação com os vizinhos era difícil e hostil, gerando guerra, violência e morte, e, tendo a paz, certamente, como algo almejado por todos. Em um desses episódios turbulentos Israel lutou e derrotou os filisteus, então o Sacerdote Samuel pegou uma pedra e a colocou como um marco dizendo: "Ebenézer, até aqui nos ajudou o Senhor" (I Samuel 7:12). A palavra "Ebenézer" significa pedra de descanso, demonstrando um reconhecimento à Deus pela vitória alcançada.

De maneira semelhante, a vida é invadida por forças hostis, maldosas e cruéis causando muito sofrimento. Sem dúvida, ao encontrar um lugar de descanso, o desejo de qualquer coração angustiado é ali permanecer. É um conforto pensar na mensagem de libertação e paz trazida por Jesus quando disse: "Vinde a mim todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei" (Mateus 11:28).

No entanto, a luta continua. Os inimigos da alma estão ao redor promovendo a morte. Descansar é bom, é fruto da benção e providência divinas, mas, também, é sinal que a fidelidade de Deus impulsiona a seguir em frente.

Ebenézer, pedra de descanso, é um marco que reconhece a fidelidade de Deus. O perigo é grande, e o inimigo é voraz. Os caminhos escolhidos, à vezes, beiram abismos. As ciladas do caminho apontam para a única esperança, saber que o livramento vem do Senhor: "Olho para os montes, de onde me virá o socorro" (Salmo 121:1-2). Colocar um marco significa proclamar, testemunhar, enaltecer, revelar o propósito de Deus em permanecer sendo o libertador, o guardador, como diz o Salmista: "Eis que não dorme o guarda de Israel" (Salmos 121:4).

Há um  perigo no lugar de descanso: acreditar ser ali o destino final. O lugar de descanso é o refrigério, o fortalecimento para continuar na batalha. É preciso combater o comodismo. É inútil agarrar-se à pedra de descanso, à oportunidade de refrigério. É preciso prosseguir, pois, como Deus esteve presente até ali, Ele continuará cumprindo o seu propósito no caminho que prossegue.

Desfrutar de vitórias e refrigérios no decorrer da caminhada estimula a seguir em frente. Este é o sentimento: Deus está conosco, nos trouxe até aqui, então prossigamos, como disse o Sacerdote Samuel: "Até aqui nos ajudou o Senhor". O propósito de Deus irá se cumprir na caminhada, no prosseguir daquele que se dispõe a levantar-se em luta contra o mal, dentro e fora de si. Sempre haverá um lugar de descanso, em que se possa dizer: Ebenézer.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Que darei ao Senhor?

Boaz Rios

Dar um presente a alguém não é tarefa aparentemente fácil. Envolve um conteúdo emocional além de fatores como conhecimento sobre a pessoa, condições financeiras, desprendimento pessoal, empatia, dentre outros.
Para presentear fica sempre a preocupação sobre de que forma prestar homenagem. O salmista Davi se preocupou com isso: "Que darei ao Senhor por todos os benefícios que tem feito para comigo" (Salmos 116:12).

Qual a razão desta preocupação? O que moveu o seu coração, qual a intenção do Salmista em fazer este questionamento? Seria insegurança, desconhecimento sobre a pessoa de Deus, insuficiência de recursos?
Talvez a preocupação de Davi em relação a Deus também exista em nós. Será que sentimos o desejo de honrar a Deus e não sabemos de que forma? O que poderia ajudar neste processo?
Vale ressaltar, em primeiro lugar, a necessidade de procurar conhecer a pessoa a quem quer presentear. Conhecer o gosto, a necessidade, o tamanho, as cores, enfim, todas as informações que facilitem identificar aquilo que satisfaça ao homenageado.
Quando não se tem nenhuma informação, o resultado da homenagem será sempre uma incógnita, um pulo no escuro. Será que vai agradar? O que agradaria a Deus? O que seria bastante para aquele que é Senhor de tudo, dono de tudo e de nada necessita?
Conhecer a Deus é importante e necessário. Será o que lhe agrada? Seria esta a questão que preocupa o salmista quando perguntou: "Que darei ao Senhor"?
No terrível episódio envolvendo os irmãos Caim e Abel, a bíblia relata que Deus não se agradou da oferta de Caim, pois ele não lhe conhecia, não sabia o que lhe agradava. Veja como Deus argumentou com Caim: "Porque decaiu o teu semblante? Se procederes bem não é certo que serás aceito? (Gênesis 4:6).
É necessário buscar conhecer a Deus, assim como afirma o profeta Oseias: "Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor" (Oseias 6:3).
Outro ponto a ser observado é que pode-se conhecer a Deus, saber do que gosta ou aquilo que lhe agrada, contudo não ter ou acreditar que não tenha, condições para ofertar. O presente pode ser oneroso, valioso, difícil para ser doado, incorrendo numa limitação pessoal no ato de dar, um sentimento de incapacidade de ordem física, material, financeira, emocional, etc.
Talvez teria sido este o problema aventado por Davi naquele momento em que perguntava o que daria à Deus. Estaria no dilema de saber o que deveria dar, como deveria agradar a Deus, mas não se sentir capaz de fazê-lo.
Certamente, em termos materiais, caso surgisse o desejo de dar a Deus algo tão oneroso que fosse impossível fazê-lo, ficaria o dilema por toda a vida: Que darei? O que farei? Como lhe agradarei? No entanto, certamente, tal dilema seria por falta de conhecimento sobre Deus, pois Ele não exige mais do que se pode dar, isto não lhe agradaria.
Contudo, até naquilo que se dispõe, persiste a sensação de incapacidade em agradá-Lo. Há indisposição em abrir mão de valores, de bens ou qualquer outro tipo de patrimônio. Há indisposição em ofertar tempo, habilidades e talentos. Há indisposição em comprometer as emoções, pois existem outras prioridades, outros desejos, outros diferentes deuses aos quais as homenagens são prestigiadas.
Desta forma, persiste a incapacidade, real ou deliberada, em não procurar agradar a Deus, até mesmo quando se deseja fazê-lo.
Outro aspecto essencial no ato de presentear a Deus é o envolvimento pessoal do doador. Não importa o tamanho, a cor, o valor ou características do presente, desde que venha com o nome, a essência, a vida do doador.
No mesmo texto o salmista Davi declara: "tomarei o cálice da salvação". Esta era a resposta ao seu questionamento inicial. O que ele precisava fazer era se envolver, se entregar, ofertar-se a si mesmo. A respeito do episódio entre Caim e Abel, o escritor da carta aos Hebreus informa que "pela fé, Abel ofereceu sacrifício mais excelente" (Hebreus 11:4). A diferença fundamental para a não aceitação não estava no conteúdo da oferta, mas no coração do doador.
Devoção, contrição, temor, obediência, serviço, amor, dentre outros, são alguns dos elementos encontrados na oferta aceita por Deus. Como afirma o salmista, um coração compungido e contrito Deus não despreza (Salmos 51:17). Este é o maior desejo do Pai celestial: "Dá-me, filho meu, o teu coração (Provérbios 23:26).

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Notícias de última hora: A chuva caiu, a água subiu...

Nunca se viu tantas e tão variadas notícias. Fala-se sobre tudo e sobre todos. A velocidade é imensa, quase instantânea. Muitos dizem que vivemos na era da informação, na qual as pessoas possuem acesso rápido e indiscriminado à todo tipo de informação, facilitado ainda pela expansão e acessibilidade aos meios digitais.
Diante disto, algumas questões carecem de respostas: O que as pessoas têm feito com as informações adquiridas? O conhecimento divulgado é útil? Com essas informações as pessoas ou a sociedade se transforma e se qualifica?

Em uma de suas parábolas, Jesus conta a história de duas casas. Uma foi construída na rocha e a outra sobre a areia. Veio chuva e enchente sobre as duas, mas somente a construída sobre a rocha resistiu. Em sua explicação, o Mestre compara a casa edificada sobre a rocha à pessoa que ouve a palavra de Deus e a pratica. Por outro lado, aquela casa que ruiu é semelhante à pessoa que ouve a palavra de Deus e não a pratica (Bíblia sagrada, Lucas 6:47-49).
O Mestre não tinha dúvida: Certamente há muitos que ouvem! As informações estão sendo digitadas, anunciadas, divulgadas por diversos meios de comunicação, chegando ao conhecimento de muitas pessoas. Alguns ouvem e refletem sobre as mensagens, no entanto, na maioria das vezes, as informações são descartadas. É preciso e importante anunciar, falar e divulgar, assim como, fazer com que as pessoas sejam alcançadas e influenciadas pela mensagem.
Contudo, é importante discernir o conteúdo daquilo que se está comunicando. É natural a percepção de que muito do que se divulga não tem o menor valor, sendo inútil, vil e, até mesmo, danoso. Jesus deixa claro que é necessário ouvir a palavra de Deus, quando ele diz: "Quem ouve estas minhas palavras". Jesus distingue as suas palavras, elas são diferentes. Manifestam a verdade, trazem vida, luz para o caminho, purificam, saciam a sede e conduzem ao Pai.
Porém, Jesus adverte para a prática da palavra de Deus, quando diz: "Quem ouve estas minhas palavras e as pratica". As palavras do Mestre não podem simplesmente serem ouvidas, colocadas no mesmo patamar das demais informações recebidas no dia a dia, pelo contrário, deve-se dar atenção e levar a efeito na própria vida, conforme afirma o apóstolo Tiago: "Tornai-vos, pois, praticantes da palavra" (Bíblia Sagrada, Tiago 1:22-24).
Por mais que se advirta há muitos que continuarão ouvindo de tudo, mas não darão ouvidos às palavras do Mestre. Por mais que se fale, há muitos que continuarão ouvindo, mas não colocarão em prática as palavras do Mestre. Desta forma, a chuva cairá, a água subirá e as casas hão de ruir. Por outro lado, aqueles que ouvirem e praticarem as palavras do Messias estarão seguros em suas moradas.