quinta-feira, 22 de março de 2018

Vida que desafia

Autor: Boaz Rios

A vida é movimento, é luta, é desafios. O universo se transforma, a terra gira, as estações pitam cores e desenham formas diversas. O mundo microscópico surpreende com suas peculiaridades: fungos, bactérias e outros micro-organismos promovem, incessantemente, uma verdadeira revolução natural.

Surgem mudanças a partir da ação humana, algumas boas, outras trazem consequências desastrosas. A tecnologia, por exemplo, sempre em constante evolução, movimenta o capitalismo ao mesmo tempo em que disponibiliza confortos para a vida humana. Como consequência, as pessoas, os governos, e as indústrias não conseguem resolver o problema do lixo tecnológico.

A estagnação, por outro lado, é sinal de morte. Deixar de crescer, de renovar, de movimentar, aponta para a possibilidade do esgotamento ou fim da vida. O certo é que o desafio ao novo é próprio à vida. Isto remete à necessidade de romper estruturas, transpor barreiras e vencer limitações.

Em um dos episódios narrados pelos evangelhos, Jesus, ao chegar a um lugar chamado Tanque de Betesda, percebeu que havia ali um paralítico, e lhe perguntou o que esperava naquele lugar. O homem lhe respondeu que acreditava que se conseguisse entrar na água quando esta era movimentada por um anjo, ele seria curado (Marcos 2:1-12).

Na história desse homem paralítico, a vida parece estagnada, sem nenhuma perspectiva. A primeira dificuldade era a sua condição de paralítico, num tempo no qual ninguém sequer cogitava sobre políticas de mobilidade urbana. A segunda dificuldade era a de sobreviver, num contexto social de total abandono, da sociedade ou do governo. Por último, a única possibilidade avistada naquela sombria circunstância era se locomover para a água e ter acesso à cura. Mas, trágico infortúnio, sua limitação física o impedia de ser curado, pensava ele.

Todavia, sobre a vida e o que ela reserva a cada pessoa, somente o Criador disciplina. Diante de circunstâncias adversas e ameaças à vida, ecos de morte insistem em ressoar. Jesus afasta os sinais de morte e renova na vida a esperança e a abundância (João 10:10). Jesus corrige os equívocos das falsas expectativas e mostra o caminho da restauração e da cura. Enfim, Jesus restitui a dignidade na vida, restabelecendo vínculos e relacionamentos. 

Na vida há realidades concretas que conspiram contra a própria existência. São diversas circunstâncias ou situações que desafiam, doem na carne e na alma,  e incomodam de verdade. É preciso ter cuidado com falsas expectativas e falsos caminhos, que da morte avizinham. Mais proveitoso é buscar a vida oferecida pelo Mestre Jesus, oportunidade para levantar-se, recolher-se da prostração e prosseguir em vida abundante.

quinta-feira, 15 de março de 2018

Magnificat: Engrandecido seja o Senhor!

Autor: Boaz Rios

Maria, após encontrar-se com sua prima Izabel,  enalteceu a Deus pela graça de trazer em seu ventre o Salvador. Ao entoar o cântico, chamado Cântico de Maria ou Magnificat (Lucas 1: 45-55), ela demonstrou ter um coração grato, reflexo consciente de ser alvo da graça divina.

Outras expressões de gratidão e louvor são encontradas na bíblia, como nos Salmos quando diz "Bom é render graças ao Senhor" (92:1) e "Celebrai com júbilo ao Senhor" (100:1). Também, o apóstolo Paulo escrevendo aos Efésios instruiu para que a gratidão fosse falada e cantada com salmos, hinos e cânticos espirituais (Efésios 5: 19-20).

Por certo, há muitas razões pelas quais de deva externar gratidão, como diz o velho cântico: " Uma a uma, dize-as de uma vez, e verás surpreso o quanto Deus já fez". Maria engrandeceu ao Senhor expondo seus motivos e razões, como veremos a seguir.

Em primeiro lugar, Maria diz que foi contemplada, recebeu atenção, foi percebida. Maria não tinha razões para ser percebida, não era de família rica, não tinha educação e nenhum destaque social. Ela relata com bela singeleza que Deus contemplou a sua humildade, ou seja, que nada foi preciso para alcançar a benção divina a não ser colocar-se na condição de serva. Então, a contemplação, atenção e percepção divinas não relacionam-se à qualquer atributo da pessoa que as recebe, mas ao próprio interesse e desejo de Deus. Isto quer dizer que Deus contempla os seus filhos, que os seus olhos os observam com atenção (Salmos 34:15), excetuando-se aqueles de coração soberbo (Provérbios 8:13).

A relação com Deus é pessoal e íntima. Muito embora a promessa fosse para toda a humanidade, Maria expôs com intensa alegria o fato de Deus tê-la contemplado pessoalmente. Davi afirma no Salmo 40 que após ter esperado confiantemente, Deus veio ao seu encontro, se inclinou, ouviu, socorreu e, ainda, pôs em seus lábios um cântico (Salmos 40:1-3).  Deus busca a cada pessoa, individualmente. Somente entre as pessoas a relação pode ser institucional, mas com Deus não. Ele busca os seus adoradores pessoalmente, aqueles que o adoram em espírito e em verdade (João 4:23).

Outra razão pela qual Maria exaltou ao Senhor foi pelos seus atos de justiça, pois, segunda ela Deus: Afasta os soberbos, destrona os poderosos e sacia os famintos (Lucas 1:51-53). A justiça de Deus opera na história contra toda a opressão, violência, arrogância e soberba. A justiça de Deus se manifesta de forma pura, original e objetiva, contrariando todo propósito contrário, mesmo que já impregnado na cultura ou nas mentes e corações. Sobre a intenção de Deus em trazer Justiça, o próprio Mestre Jesus assim se posiciona: "Não fará Deus justiça aos seus?" (Lucas 18:7).

Por fim, Maria exaltou ao Senhor porque Ele foi fiel às suas promessas, "ajudou a seu servo Israel, lembrando-se da sua misericórdia para com Abraão e seus descendentes para sempre" (Lucas 1:54-55). Certamente, esta motivação para exultar a Deus nunca desaparece, pois grande é a sua fidelidade (Lamentações 3:23).

O Deus eterno, misericordioso e fiel, continua a irradiar as suas boas novas de grande alegria a todos quanto o buscam de forma íntima e pessoal, acreditam em suas promessas e em seus atos de justiça. Da Divina visitação resulta uma nova vida, cheia de esperança, fé e amor, entusiasmada com a perspectiva de restauração total da existência em Cristo Jesus, ao qual se deve todo o louvor e adoração.