terça-feira, 24 de maio de 2011

O Processo de Mudança


Roteiro de aula: Boaz Rios
Três conselhos de Maquiavel:
  • “ Não há coisa mais difícil de ser tratada, de consecução mais duvidosa, de manejo mais perigoso do que fazer-se o líder da introdução de novas regras, pois o introdutor terá como inimigo todos aqueles que tiram proveito das velhas regras, enquanto que em todos aqueles que tiram proveito das novas regras encontrará tíbios defensores”.
  • “A tibieza destes se origina, em parte, do medo dos adversários que têm as leis ao seu lado e, em parte, da incredulidade dos homens, os quais não crêem verdadeiramente nas coisas novas se delas não presenciarem uma sólida experiência.”
  • “A natureza dos povos é mutável, sendo fácil persuadi-los de uma coisa, mas difícil de mantê-los persuadidos. E assim convém estar preparado de modo que, quando não acreditarem mais, se possa fazê-los crer pela força”.
Fontes de Resistência
Resistência individual:
  • Quando ela os tornar inseguros – dúvidas quanto aos impactos e riscos da mudança; sentimento de incompetência diante do novo quadro; sentir-se diminuído diante dos colegas; sentir-se incapaz de aprender novas habilidades;
  • Quando sua posição de poder é ameaçada - redução de participação nas recompensas; diminuição na influência sobre as decisões; reduzir o seu controle sobre os recursos da organização; diminuição do prestígio e reputação pessoal;
Resistência grupal:
  • Ameaçar o poder do grupo;
  • Desrespeitar os valores e as normas aceitos;
  • Basear-se em informação considerada irrelevante;
  • Basear-se num modelo de realidade diferente do modelo considerado válido pelo grupo;
Gestão da Resistência:
  1. Construção de uma plataforma de lançamento:
  • Minimização da resistência inicial;
  • Formação de uma base de poder suficiente para dar impulso e continuidade à mudança;
  • Preparação de um plano detalhado para o processo de mudança, com a designação de responsabilidades, recursos, etapas e interações através dos quais a mudança será realizada;
  • Inclusão, no plano, de aspectos comportamentais que otimizem a aceitação e o apoio às novas estratégias e potencialidades.
2. Diagnóstico da natureza da mudança:
    • Diagnóstico preliminar de resistência:
      • A descontinuidade esperada não se repetirá no futuro?
      • A extensão da mudança e o tempo necessário para uma resposta eficaz à descontinuidade da mudança;
      • As unidades da organização afetadas pela mudança.
    • Diagnostico comportamental:
      • Qual a intensidade de perturbação política e cultural?
      • Quais os principais indivíduos que apoiarão ou resistirão e as razões de suas posições?
      • Existirá resistência grupal?
      • Qual a importância relativa de indivíduos e grupos para o êxito da mudança?
3. Criação de um clima de apoio:
  • Eliminar erros de percepção e exageros, com o esclarecimento a toda a empresa sobre a mudança e os seus benefícios;
  • Eliminar ou reduzir os temores e ansiedades sobre grupos e indivíduos;
  • Usar a informação política para construir uma base de poder favorável à mudança:
    • Proceder a mudanças na estrutura de poder que favoreça a mudança;
    • Formar uma coalizão dos que se beneficiarão com a mudança, arregimentando os defensores “tépidos”;
    • Oferecer recompensas pelo apoio à mudança;
    • Neutralizar os principais pontos de resistência potencial por meio de acordos e compensações em paralelo.
4. Inclusão de aspectos comportamentais no Plano de Mudança:
    • Na medida do possível, excluir do processo os indivíduos ou grupos que continuarão a resistir à mudança;
    • Incluir na tomada de decisão todos os indivíduos que deverão estar envolvidos na implantação da mudança;
    • Distribuir a mudança pelo espaço de tempo mais amplo possível que seja compatível com a premência dos eventos externos;
    • Se o tempo permitir, usar o enfoque de contágio:
      • Iniciar a mudança com grupos comprometidos com ela;
      • Recompensá-los e destacá-los;
      • Após seus êxitos iniciais, espalhar a mudança a outras unidades.
    • Incorporar ao Plano os programas de educação e treinamento. Não supor que as informações já são suficientes.
5. Gestão comportamental do processo:
    • Acompanhar e prever as fontes de resistência durante a mudança;
    • Arrebanhar e utilizar poder suficiente para superar a resistência;
    • Fornecer aos participantes do processo os novos conhecimentos, conceitos e habilidades de solução de problemas que sejam necessários;
    • Juntamente com os projetos estratégicos, dar início a projetos que visem à transformação da cultura e da estrutura de poder;
    • Acompanhar e controlar o desenvolvimento paralelo das novas estratégias e potencialidades.
Referências:
ANSOFF, Igor. Implantando a Administração Estratégica
MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Sabores da Páscoa

Autor: Boaz Rios

Longe da doçura do chocolate, a páscoa, originalmente na cultura judaica, traz o sabor amargo das ervas, da carne cozida de carneiro acompanhada do gosto insosso do pão sem fermento. Tudo isso, para representar a libertação israelita da escravidão egípcia, tornando-se numa das festas instituídas por Deus para a celebração tradicional-religiosa daquele povo.
Ao celebrar a páscoa, Jesus convida os seus discípulos para uma ceia especial, pois seria a última vez que o faria. Naquela ocasião, parte o pão e distribui o vinho, instituindo daquele momento em diante a Eucaristia, ou seja, um sacramento que todos os cristãos participariam como testemunho do sacrifício de Jesus, sinal da libertação completa de todos os efeitos do pecado para aqueles que aceitam a sua obra redentora.
Para os discípulos, o prenúncio da morte do Mestre não proporcionou à Páscoa um sabor agradável. Nem mesmo a promessa de ressurreição afastou dos apreensivos corações a angústia, a dor e a desilusão. Estes sentimentos  ficaram evidentes em alguns momentos que sucederam a morte de Jesus, como veremos a seguir.
Ocorre uma exaltação da tragédia, percebida na narrativa dos dois discípulos no caminho de Emaús (Lucas 24, versículos de 13 a 25). Os acontecimentos do final de semana impactaram suas mentes de maneira profunda, devido a crueldade das agressões, a injustiça, enfim, o horror da crucificação de um justo. Sobre isso conversavam, tão envolvidos, que não perceberam que o próprio Jesus os acompanhava e conversava com eles. A tragédia impõe sua preferência, seja nos noticiários ou na roda de amigos, as más notícias irão preponderar.
Sobrevêm um conformismo prático, evidenciado na atitude das mulheres que vão ao túmulo para embalsamarem a Jesus (João 20:11-16). Diante do fato trágico consumado, resta fazer o que é possível, realizar a prática cotidiana e costumeira, longe de qualquer possibilidade sobrenatural. Viram a Jesus, mas não o reconheceram, confundindo-o com um jardineiro o indagaram sobre o corpo do sepultado. O conformismo prático aplica sua rotina, retoma as regras habituais e conforma-se com a realidade tragicamente insuperável.
A incredulidade supera a fé quando, para crer, evidências são exigidas. Naquele instante, os fatos adversos falaram mais alto e, com toda a sinceridade, Tomé, um dos discípulos, expõe sua condição: Só acreditaria na ressurreição se visse os sinais, e colocasse as mãos nos ferimentos de Jesus (João 20:26-28). A fé se esvai diante das circunstâncias desfavoráveis e o olhar volta-se para a ameaça premente, perdendo-se a expectativa do depois.
A páscoa, entretanto, tem sabor de alegria, celebrando a vitória da vida que supera a morte. Trata-se de um poder emanado da ressurreição de Jesus, capaz de produzir entusiasmo, esperança e vitalidade.
O entusiasmo renova a vida, promovendo a recuperação da capacidade de alegrar-se e satisfazer-se. Tal sentimento é exposto pelo apóstolo Paulo nas expressões: esquecer, avançar e prosseguir (Filipenses 3:13 e 14). A sensação original provocada pela ressurreição faz desaparecer o gosto amargo do passado deixando o paladar ávido, desejoso por experiências inusitadas.
A esperança estabelece o propósito, orientando os olhares para o futuro, para as coisas que se colocam adiante. Perante o olhar incrédulo dos discípulos de Emaús, Jesus adverte: " Ó néscios e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram!" (Lucas 24:25). Não importava olhar para o passado, incrustar-se nos traumas das frustrações, mas fitar os olhos na palavra profética, que serenamente insiste em apontar o caminho da esperança.
A vitalidade se manifesta, demonstrando que a sequidão aparente guardava sinais de vida com capacidade rejuvenescedora, que só brota por meio da seiva de vida que flui da ressurreição de Jesus. A árvore plantada junto ao rio, diz o Salmista, no devido tempo dá o seu fruto. Eis que se rompe o ciclo da morte e se estabelece o ciclo da vida, é vida gerando vida, por isso, a celebração de Paulo: "Onde está, ó morte, a tua vitória?" (I Coríntios 15:55).

Sabores da Páscoa são sensações experimentadas pela alma, às vezes, com tamanha amargura que provoca arrepios, porém, aqueles que se apropriam da ressurreição de Jesus provam de delícias incomparáveis e eternas.