Discutir a sustentabilidade das ONgs é importante e
necessário, num momento em que a participação social na execução e
acompanhamento de políticas públicas tem aumentado em todo o mundo, e em
particular, no Brasil. Ter
sustentabilidade é um desafio em razão: Do crescimento e multiplicação das
entidades; da necessidade de qualidade dos serviços; e, da garantia de
autonomia.
Em
razão disso, SALAMON (2000:102) levanta o questionamento: “que fazer para
transformar os promissores começos que o moderno terceiro setor está mostrando,
tanto na região ibero-americana quanto no resto do mundo, numa força permanente
e sustentada, com vistas à melhoria das condições humanas?”. Para responder a
esse questionamento SALAMON responde propondo Quatro desafios críticos: o
desafio da legitimidade, o desafio da eficiência, o desafio da colaboração e o
desafio da sustentabilidade.
Desafio da legitimidade: Disseminar amplamente a informação
básica disponível sobre esse conjunto de organizações e assim tirar o terceiro
setor das sombras; Fazer um esforço de educação pública para conscientizar
amplamente a população sobre o terceiro setor e aquilo que ele é capaz de
propiciar; Consolidação de um aparato legal capaz de tornar mais claro e eficaz
o direito de associação, bem como, favorecer as isenções tributárias para
contribuintes; Exigir das organizações do setor, transparência contábil e
financeira, de maneira a tornar claro e evidente a aplicação dos recursos
públicos e privados destinados ao serviço social.
Desafio da eficiência: Pressões para aperfeiçoamento dos
sistemas de administração e desempenho; notória institucionalização e
profissionalização no campo da ação voluntária. Um em cada dois americanos
adultos serve como voluntário no setor sem fins lucrativos pelo menos três
horas por semana, tornando esse setor o maior empregador dos Estados Unidos. Da
mesma forma, nos últimos quarenta anos, o setor de organizações sem fins
lucrativos tem influenciado de 2 a 3 por cento o Produto Nacional Bruto – PNB dos EUA
(DRUCKER); submissão da dimensão de projeto associativo aos imperativos
funcionais, fundada sob um modo formal de gestão e a busca de resultados
passíveis de quantificação” FRANÇA FILHO(2001:135).
Desafio da colaboração: Esforço contínuo no estabelecimento
de parcerias com o governo, com o setor empresarial e entre as próprias
organizações do setor, buscando potencializar esforços na solução dos problemas
sociais.
Na
maioria das vezes, as organizações do terceiro setor nascem da iniciativa de
pessoas ou empresas, cujas doações voluntárias possibilitam o estabelecimento e
o desenvolvimento institucionais. As bases financeiras iniciais ancoradas no
voluntarismo não são suficientes para a garantia de sobrevivência.
Outro
grave problema é a dificuldade de sustentabilidade do capital humano. “os
ativistas do terceiro setor assumem cargos governamentais em substituição aos
antigos funcionários que lutaram para afastar, deixando assim suas organizações
empobrecidas em recursos humanos” SALAMON (2000:106).
Para
vencer o desafio da sustentabilidade: 1) Consolidar a base filantrópica
privada. A filantropia, ou voluntarismo, é vital não só para a sobrevivência,
mas sobretudo, para a independência do setor; 2) Fugir da possibilidade de
limitar a arrecadação às fontes filantrópicas privadas, abrindo espaço para
outras fontes de financiamento; 3) Precaver-se contra as baixas de capital
humano: “terá de prevalecer a noção do terceiro setor como carreira e não como
simples estação no caminho de volta ao serviço governamental.
Na
opinião de Rubem César Fernandes (Instituto de Estudos da Religião) e Candido
Grzybowki (Instituto de Análises Sociais e Econômicas – ISER), As condições de
sustentabilidade dependem de uma alteração radical quanto à forma original de
financiamento das organizações do terceiro setor, devendo “posicionar-se, cada
vez mais, de frente para o Estado nacional, mais próximas do universo das
empresas e com um crescente apoio material direto dos cidadãos brasileiros”.
No
mix ideal imaginado por Cândido, a cooperação internacional deveria contribuir
com cerca de 30 a 40% do total; os governos brasileiros compareceriam com cerca
de 30%; as empresas com 20% e; os doadores individuais com cerca de 15%.
No
entanto, em nosso entendimento, continuará existindo um grande risco,
principalmente, no que tange a vulnerabilidade existente nas participações do
governo e de agências internacionais. Do governo, em razão das mudanças de
política governamental, alterações na equipe ministerial e do obscuro processo
político-eleitoral. Quanto ao auxílio internacional, sabe- se que é crescente a
diminuição desse investimento no Brasil em detrimento do deslocamento de foco
para áreas onde estas agências julgam de maior carência, como a África e
regiões em conflito.
Concluindo,
uma possibilidade para a construção da sustentabilidade se consubstanciaria num
envolvimento implicado que compreendesse: contribuições voluntárias; Parcerias
intra e inter-setoriais; e Geração de recursos próprios.
Fonte:
SILVA, Boaz Rios. Capítulo III:
analisando a sustentabilidade das ong´s. Dissertação de Mestrado.
UFBA/2004.
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