segunda-feira, 23 de julho de 2012

Com graça e prazer

Autor: Boaz Rios
Não é costumeiro para o ser humano agir independente de recompensa. Há sempre um interesse em que algo que se faz, ou mesmo, aquilo que se transfira para alguém, seja associado a um valor ou a uma gratidão que se traduz em reciprocidade, ou seja, de alguma forma retorne em benefício para si. Por esta razão é tão difícil a compreensão do sentido de Graça. Como conceder a alguém benefícios pelos quais ele nada fez e, em hipótese alguma, virá a merecer?
O favor imerecido, por sua incompatibilidade com o desejo de retribuição humano, torna-se fato raro de ocorrer. Os que se aventuram em exercitar o agir pela graça, assumem, concomitantemente, as consequências do amor resignado. Necessariamente, submeter-se-ão ao convívio com frustrações, decepções e injustiças de toda ordem.
Graça, na concepção divina, é predisposição de querer bem, gerada por um amor incondicional, que além de imotivado, é, ao mesmo tempo, abnegado. O profeta Oséias revela que Deus expôs o seu amor como um compromisso pessoal, refletido nas seguintes palavras: "Eu, de mim mesmo, os amarei" (Oséias 14:4).
Nutrido previamente, o amor de Deus confere um comportamento gracioso, cuja culminância ocorreu no sacrifício de Jesus ao assumir a punição alheia, penalidade cabível à humanidade distante e rebelde à intimidade com Deus. Mesmo num mundo caído onde a maldade se multiplica, persiste a graça protetiva, garantidora, infalível, que alcança os filhos de Deus.
Esta graça, primeiramente, tem um caráter absoluto, ela alcança integralmente a vida. A plenitude do seu significado foi revelado ao apóstolo Paulo nas palavras do próprio Deus: "a minha graça te basta" (II Coríntios 12:8). A graça é bastante, não é consolo como se houvesse uma situação melhor. Viver na graça, ou pela graça, não é abster-se de coisas boas, frustrar-se num cotidiano monótono. Pelo contrário,  estar na graça é desfrutar na vida presente de prazer inigualável.
A graça é bastante, porque satisfaz plenamente. Para os que se permitem desfrutar da graça, todas as frustrações e decepções são superadas por um estímulo que flui do interior de cada pessoa. Esta capacidade de superar as adversidades e limitações da vida cotidiana é dom de Deus, obra do Espírito Santo gerada no interior do ser humano.
Em segundo lugar, a graça se manifesta a cada pessoa de maneira singular, ou seja, mesmo sendo única e procedente de um Deus invariável, ela vai se revelando a cada um à medida que ocorre o afastamento do critério retributivo e a aproximação do critério gracioso.
Jesus, no sermão da montanha, traduz esse pensamento ao cuidar sobre o julgamento:" Não Julgueis, para que não sejais julgados. Porque com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós" (Mateus 7: 1-2). Observa-se que o critério da medida fica à cargo de cada um, portanto, trata-se de uma opção, mas que, ao ser escolhida a ela se vincula, ou seja, quando se mede por um critério, com o mesmo critério será medido.
No reino da graça a coerência exige a adoção de critérios equitativos, tanto para receber o benefício, quanto para agraciar, como está escrito: "O Juízo é sem misericórdia para aquele que não usou de misericórdia" (Tiago 2:13). 
Por último, a graça apresenta característica marcante de produzir mais graça. Esse poder multiplicador nasce quando a pessoa é alcançada pela graça de Deus, sendo abençoada generosa e abundantemente, de maneira a tornar-se impossível a sua restrição. É benção incontida, que transborda e alcança a todos com a mesma solidariedade, como afirma o Mestre: " De graça recebei, de graça dai" (Mateus 10:8).

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