"Então Jesus perguntou: "Com que se
parece o Reino de Deus? Com que o compararei? É como um grão de mostarda
que um homem semeou em sua horta. Ele cresceu e se tornou uma árvore, e as aves
do céu fizeram ninhos em seus ramos “(Lucas 13:18-19).
Temos uma necessidade ou, no mínimo, curiosidade de
reconhecer, perceber e desfrutar do reino de Deus. Agora, imagine que você
venha saber que esse reino já chegou, com certeza aumentaria a
esperança por experimentá-lo. Era esta a expectativa dos que se ajuntavam ao
redor do mestre Jesus Cristo: reconhecer, perceber e desfrutar do reino que ele
anunciara estar perto.
Podemos pensar na perplexidade e, ao mesmo tempo,
na incompreensão de olhar para todas as circunstâncias adversas, para o
cotidiano conhecido e, por vezes, entediante, e não vislumbrar nada de novo,
nenhuma perspectiva de mudança capaz de entusiasmar.
Então, parece razoável a preocupação em saber a
aparência do reino anunciado. Esse interesse vem, em primeiro
lugar, pelo desejo de identificar, ou seja, conhecer as qualidades para
possibilitar o reconhecimento; Depois, para comparar, experimentar,
perceber os seus atributos e avaliá-los a partir dos padrões pessoais; Por
último, para decidir se lhe é conveniente e agradável, ou não.
Seria possível a negativa quanto o desfrutar do
reino de Deus? Á primeira vista, parece que não. Na realidade, porém, muitos
rejeitaram e continuam a rejeitar o reino oferecido por Jesus, a exemplo do
Jovem que não quis seguir a Jesus porque era muito rico ou dos dez leprosos que
foram curados, mas somente um se interessou por retornar.
Logo, a questão que merece o cuidado de Jesus é:
Com que se parece o reino de Deus? Para responder, o Mestre imaginou o grão de
mostarda, por que:
1.
É um grão
imperceptível, mas, na verdade, valioso;
O reino de Deus parece imperceptível a muitas
pessoas e em muitos momentos, assim como um grão de mostarda, que por ser uma
hortaliça, é uma semente muito pequena. Assim, o reino de Deus nos é
apresentado e, por vezes, não o reconhecemos. São vozes baixas e tímidas, são
portas entre-abertas que nos convidam acanhadamente. Porém, são possibilidades
que por mais remotas que pareçam, surtirão um efeito extraordinário, notadamente, se aprendermos a crer e a exercitar a fé.
A semente traz em si as qualidades genéticas da
planta-mãe. Quando não modificadas em laboratório, reproduzirão as
características da sua espécie. O reino de Deus é intrinsecamente valioso,
pois, mesmo não o percebendo, guarda em si as qualidades perfeitas e eternas do
próprio Deus.
A semente, mesmo que pequena, guarda qualidades não
visíveis e não conhecidas, que só se revelarão após a germinação e vegetação da
planta. Assim, também, o Reino de Deus é repleto de novidades, de coisas
inusitadas, de sabores a degustar e dos mais variados estímulos para aguçar os
nossos sentidos e nos fazer perceber o quanto não conhecemos da
realidade.
Talvez a novidade não nos seja agradável,
confrontem os nossos estilos, os nossos gostos e nos façam tentar rejeitá-la. É
possível, também, que o novo apresentado pelo reino de Deus seja por demais
desafiador e, por isso, venha a ser temido.
Por isso, o valioso grão do reino de Deus se
percebe por meio da fé, por meio da qual é possível andar sobre as águas,
repartir o pão escasso ou dispensar o perdão inesperado. Assim, a pequena
semente, na verdade é grande - ela guarda em si a perfeição, o desejo de Deus
revelado a cada um de nós, por isso fica o conselho do poeta: "não
rejeite os tímidos começos, eles também rumam aos finais" (Jorge Camargo).
2.
É um grão
imperceptível, mas, de resultado surpreendente;
Quem não conhece o que a semente vai gerar, não é
capaz de afirmar o seu resultado. Jesus observou o grão de mostarda e percebeu
que aquela sementinha apresentava um resultado surpreendente, porque se
transformava numa árvore que acolhia os pássaros. O que era perceptível momentaneamente no grão de mostarda não traduzia os efeitos formidáveis vislumbrados no futuro.
No Reino de Deus o resultado não é condicionado pelas
circunstâncias e aspectos já conhecidos. Não há qualquer limitação de ordem
humana ou material que impeça a manifestação poderosa de Deus, como esclarece o
salmista Davi: “Pois será como a árvore plantada junto a ribeiros de águas, a
qual dá o seu fruto no seu tempo; as suas folhas não cairão, e tudo quanto
fizer prosperará” (Salmos 1:3).
O Reino de Deus se manifesta enaltecendo a
plenitude do poder divino. Por mais que nos esforcemos, o resultado dos feitos
divinos é incomparavelmente superior ao que possamos alcançar pelo mero esforço
humano. Por esta razão Jesus aponta: "Eu lhes asseguro que se vocês
tiverem fé do tamanho de um grão de mostarda, poderão dizer a este monte: ‘Vá
daqui para lá’, e ele irá. Nada lhes será impossível” (Mateus 17:20). Nas palavras de CS Lewis: Existem coisas melhores adiante do que qualquer outra que deixamos para trás.
3.
É um grão
imperceptível, mas, na verdade, totalmente inclusivo
As aves do céu vinham e se acomodavam no pé de
mostarda. A hortaliça, agora, era um local acolhedor, um espaço aberto para
receber todos os tipos de pássaros. As cores se misturam e os cantos dos
pássaros se harmonizam, neste habitat propício ao convívio saudável.
Era esse o reino imaginado por Jesus, quando fez a
comparação com o pé de mostarda. Um local acolhedor, que não discrimina pela
aparência ou comportamento, simplesmente, acolhe. Neste lugar há proteção,
descanso, providência, paz e felicidade. Quando se percebe a presença do reino
há vontade de cantar, de se alegrar de engrandecer ao magnífico criador pela grandiosidade da obra.
Esta é uma inclusão que vai além da que estamos
acostumados, pois nos insere na dimensão espiritual, permitindo-nos viver no caminho eterno, como instrui o salmista: “Vê se em minha conduta algo que te
ofende, e dirige-me pelo caminho eterno” (Salmos 139:24). A efetiva inclusão ocorre na dimensão espiritual, permitindo clara percepção da vida e seus desafios e, como consequência, fazendo brotar na existência esperança, força e fruto.