Autor: Boaz Rios
Geralmente conhecemos muito pouco e,
às vezes, quase nada, sobre pessoas, coisas, situações, enfim,
sobre tudo na vida. O julgamento sobre coisas ou situações é
fortemente influenciado pela imensa quantidade de informações que
atualmente temos acesso, como também, pelo caráter volátil dessas
informações que se desatualizam rapidamente, tornando as decisões,
ainda mais, complexas. Já, em se tratando de pessoas... como é
difícil ter um juízo perfeito!
Fazer juízo de valor ou fazer
escolhas quanto a pessoas, coisas ou situações, são atitudes do
nosso cotidiano. Não temos como negá-las ou, sequer, fugir delas. É
preciso desenvolver habilidades para melhor discernir, analisar e se
posicionar ante os dilemas da vida.
É errôneo e enganoso o pensamento
que nos afasta dos julgamentos, como se tudo se resolvesse
naturalmente, sem que, ao menos, tivéssemos que tomar decisões à
luz da música popular: "Deixa a vida me levar...". Outros,
equivocadamente, poderiam até usar as palavras de Jesus: "Não
julgueis e não sereis julgados" (Mateus 7:1). No entanto, o
propósito do Mestre era afastar o juízo hipócrita, desarrazoado e
sem equidade, pois, em outro momento, o mesmo Jesus afirma: "Julgai
segundo a reta justiça" (João 7:24). Outros textos bíblicos
alertam para a necessidade e o cuidado no julgar: … julgaste bem.
(Lc 7:43); ... por que não julgais também por vós mesmos o que é
justo? (Lc 12:57); ...julgai vós mesmos o que digo … (1Co 10:15);
Mas o que é espiritual discerne bem tudo … (1Co 2:15).
Convém nos determos um pouco na busca
do caminho que nos conduz ao julgamento equilibrado e justo. Neste
sentido, é preciso ter cuidados com generalizações, como: "Não
há ninguém em que se possa confiar"; "Todos são iguais e
cometem os mesmos erros"; "As coisas são assim mesmo...".
Generalizar é tentar fugir das escolhas, ignorando-as. Este estilo
de vida, à deriva, proveniente da não decisão, revela duas
características: conformação e impotência.
A conformação pode representar uma
aceitável resignação ante ao irremediável, mas, por outro lado,
pode resultar de uma adaptação forçada pelas circunstâncias.
Conformando-se, evita-se estabelecer distinções e predileções,
que poderia levar a confrontos internos e externos. Logo,
generalizar, suaviza as relações e adia a necessidade de escolha.
Generalizar, por outro lado,
representa impotência quando universaliza determinadas
características pela simples razão de não querer ou supor que não
possa confrontá-las. É evidente que ativamos o senso crítico a
cada nova situação apresentada, porém, é muito mais confortável
jogar na vala comum ou tratar com banalidade o novo que se revela, do
que posicionar-se quanto a ele.
Ao afastar-se das generalizações, é
preciso cautela quanto ao perigo da supremacia das minorias. Deus é
tão minucioso em sua criação que deu a cada ser no universo
características peculiares, compondo harmonicamente a beleza da
vida, como diz as escrituras: "E Deus viu tudo que havia feito,
e tudo havia ficado muito bom" (Gênesis 1:31). Isto quer dizer
que as pequenas particularidades, os detalhes e peculiaridades são
importantes, todavia compõem um todo. Pelo princípio da harmonia
universal, sobrepor peculiaridades, supervalorizar coisas e
situações, ou tentar ver o mundo por somente uma cor, mesmo que
seja com cinquenta tons, desequilibra a harmonia edênica, e distorce
a beleza da vida.
Diante da necessidade de julgar, é
importante atentar para o caminho traçado por Jesus Cristo: "Os
olhos são a candeia do corpo. Se os seus olhos forem bons, todo o
seu corpo será cheio de luz" (Mateus 6:22). Observa-se que a
bondade determina a luminosidade do corpo, afastando o julgamento
equivocado, desatencioso ou sombrio. Isto aponta para a necessidade
de buscar princípios divinos a fim de valorar as nossas
decisões e podermos olhar com bondade e viver com justiça, como
veremos a seguir.
Como primeiro princípio destacamos a
Supremacia e a satisfação de Deus em cada juízo. Sem dúvida,
Deus é o julgador supremo: "É Deus quem preside na assembleia
divina; no meio dos deuses, ele é o juiz" (Salmos 82:1). Por
mais que persistam atitudes despreocupadas ou inconsequentes, no
fundo, sabemos que em algum momento nossas escolhas serão expostas
diante de nós como um déjà vu, em plenitude de razão e
consciência diante de Deus, que é expressão da verdade suprema.
Muitas vezes julgamos mal, porque o
fazemos para nós mesmos. Quando aprendemos a escolher a partir de
Deus, mudam-se os critérios da seleção e passamos a desejar
agradá-lo. A satisfação de Deus será a nossa alegria na certeza
das melhores escolhas: "Porque nenhum de nós vive para si, e
nenhum morre para si. Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos; se
morremos, para o Senhor morremos. De sorte que, ou vivamos ou
morramos, somos do Senhor" ( Romanos 14:7-8).
Como segundo princípio destacamos que existe nas decisões um caráter personalíssimo, como se lê: "De maneira que cada um de nós dará conta de si mesmo a
Deus" (Romanos 14:12-13). As escolhas são próprias de cada um, não devendo ser transferidas a ninguém, e mesmo que sejam, as consequências não recairão sobre outra pessoa, mas sempre serão colhidas pelo transmissor.
Frisamos, como terceiro princípio, que a paz e o cuidado com o próximo são
balizadores nas decisões. Buscar a verdade a qualquer custo, como se resultasse de uma aventura épica, pode causar muita dor e sofrimento a si mesmo e a outros. Por outro lado, a revelação maior é fruto do amor de Deus que se manifestou ao mundo (João 3:16), de forma que todos que a recebem tenham a vida, e participem da verdade inclusiva. Por isso, na trajetória da vida com justiça não atropelamos, não abandonamos, não sufocamos, mas buscamos o crescimento coletivo, como aconselha o apóstolo Paulo "Sigamos, pois, as coisas que servem
para a paz e para a edificação de uns para com os outros" (Romanos 14:19).
É preciso destacar que a vida encontra sua plenitude em Deus, seu criador, que não compactua com a maldade, como nas palavras do salmista: "Como é feliz aquele que não segue o
conselho dos ímpios, não imita a conduta dos pecadores, nem se
assenta na roda dos zombadores! Ao contrário, sua satisfação está
na lei do Senhor, e nessa lei medita dia e noite" (Salmos 1:1-2). Neste sentido, a limitação da impiedade se coloca como quarto princípio divino para olhar com bondade e viver com justiça.
Outro princípio encontra-se na necessária proteção aos humildes. Atualmente, o princípio da hipossuficiência é garantido em lei em alguns casos, e jurisdicionalmente reconhecido nos tribunais. Por isso, aqui se coloca como o quinto princípio de modo a olhar com bondade e viver com justiça, a exemplo do que alerta o salmista: "Até quando vocês vão absolver
os culpados e favorecer os ímpios? Garantam justiça para os fracos e
para os órfãos; mantenham os direitos dos necessitados e dos
oprimidos. Livrem os fracos e os pobres;
libertem-nos das mãos dos ímpios" (Salmos 82:1-3).
Por fim, Paulo aponta o sexto e último princípio aqui examinado, ao orientar que sejamos revestidos de amor para aperfeiçoar os vínculos, nomeando a paz de Cristo como o juiz nos corações (Colossenses 3:14-15). Isto quer dizer que ao estabelecer as relações no amor oferecido por Jesus, haverá paz nas decisões, escolhas e julgamentos, conforme aponta Paulo: "E também faço esta oração: que o vosso amor aumente mais e mais em pleno conhecimento e toda a percepção, para aprovardes as coisas excelentes e serdes sinceros e inculpáveis para o Dia de Cristo, cheios do fruto de justiça, o qual é mediante Jesus Cristo, para a glória e louvor de Deus" (Filipenses 1:9-11).
Concluindo, enfatizamos que julgar é necessário, mesmo implicando em muitos dilemas, desafios e desgastes. Os princípios divinos aqui apontados não são os únicos e, portanto, outros critérios bíblicos podem ajudar neste difícil processo, afinal, como orienta o sábio Salomão: "O que começa o pleito parece justo, até que vem o outro e o examina" (Provérbios 18:17).
Concluindo, enfatizamos que julgar é necessário, mesmo implicando em muitos dilemas, desafios e desgastes. Os princípios divinos aqui apontados não são os únicos e, portanto, outros critérios bíblicos podem ajudar neste difícil processo, afinal, como orienta o sábio Salomão: "O que começa o pleito parece justo, até que vem o outro e o examina" (Provérbios 18:17).