domingo, 14 de agosto de 2011

Expresso Saudade

Rebecca Rios:
Ande depressa, seu maquinista, suba nesse trem e vai.  
Vai, que a estrada sabe bem onde te levar. 
A madeira segue o rastro da porta sempre aberta e do del vecchio bem cuidado.
Já o ferro, cansado de ser sempre relacionado às durezas, ouviu dizer que lá há aconchego e, assim, vai, sem hesitar.
Ande depressa, seu maquinista, e pode lotar de lenha essa locomotiva. 
Lenha que dê pra aquecer o motor e o carregamento. É que a encomenda tá acostumada com o a calor do meu peito e fica coalhada em caso de friagem, ouvi dizer.
Ande depressa, seu maquinista, mas nada de sair fazendo piuí. Esse negócio de alarde desagrada o destinatário, que é todo afeito às coisas contidas. Não precisa avisar que a encomenda é carinho. 
Quando ele abrir, vai logo ver. Nessa hora, não se engane com a falta de lágrimas, nem o julgue desnaturado. Tem problemas de desidratação, coitado. Bem aprendi, e te ensino de já, que ele sabe mesmo é sorrir. 
E sorri, e sorri.

Boaz Rios:

Sempre na estação a esperar, estará quem não se acostuma com o lugar.
Lugar que não deixou de ser, mas que se esvaziou, mesmo sem querer.
Movido por um sentimento de dever, que fere e não desiste de constranger, 
Mas que guarda uma expectativa, uma esperança incontida,
De que a semente solta ao vento fecundará em outro lugar,
E de lá, por mais longe que possa estar,
Exalará perfume inigualável, que o olfato mais aguçado perceberá,
Quão distinto e agradável aroma veio ao mundo perfumar,
E no cantinho, naquele lugar, o som de um velho tocador, 
Nas cordas do companheiro Del Vecchio,
No dedilhar calmo, sereno e tranquilo,
Por fim, não conterá, lágrimas do seu rosto a rolar.

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