segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Caos, morte e esperança

Autor: Boaz Rios

Imagem:https://aidobonsai.com/category/bonsai-rosa-do-deserto/
Em tempos remotos quando se conquistavam cidades através de guerras, por vezes, os povos eram escravizados e as casas queimadas, expondo de longe os sinais da crueldade. Hoje em dia, ainda persistem violências cruéis e notórias, no entanto, outras muitas atrocidades e maldades atingem homens e mulheres, negros e brancos, velhos e novos, mesmo que de forma velada. 

Quem há de duvidar do cheiro de morte exalado no mundo? Afeta de tal forma que todos sentem, respiram e são impregnados pelo odor dessa fumaça maldita. Não obstante à forma como se apresenta ou de onde possa vir, A violênciaseja qual for a maneira como ela se manifesta, é sempre uma derrota”, afirma Jean-Paul Sartre.

Até os santos, na Bíblia e na história, conviveram e sofreram com as tragédias. Desde o assassinato entre os filhos do primeiro casal, até as tragédias na família de Davi ou as perseguições e martírios sofridos pelos primeiros cristãos, tudo evidencia cenários tingidos de caos, morte e sofrimento.


Todavia, o evangelho, as boas novas de Jesus de Nazaré, sem dúvida, traz um conteúdo de cunho vitorioso, porém nunca triunfalista. O que significa ser triunfalista? É ser cooptado por um tipo de mensagem veiculada por movimentos neopentecostais que associam a vida cristã a uma necessária prosperidade e ausência de sofrimento, definitivamente antagônica à pregação e vida do Cristo. Este pensamento é rejeitado por sérios pensadores cristãos, como de C. S. Lewis: "Eu não fui para religião para me fazer feliz. Eu sempre soube que uma garrafa de vinho do porto faria isso. Se você quer uma religião para fazer você se sentir realmente confortável, certamente eu não recomendo o Cristianismo". 

Os relatos bíblicos sobre Jó exemplificam a dor e angústia que podem sobrevir a qualquer pessoa, inclusive àquelas consideradas íntegras, justas e tementes a Deus (Jó 1:1). O sofrimento dele foi intenso, ocasionado pelas mortes na família, abandono dos amigos, destruição dos seus bens e grave enfermidade, o que o levou a esperar unicamente a morte, porém não descrendo de Deus, no qual mantinha a esperança (Jó 17 e 19:25-26).

Caos e morte embora contrariem e atentem contra a vida, nela estão presentes. A afirmação da vida é a ordem natural, impulsionada que foi pelo sopro divino. Contudo, aprouve ao criador permitir a cada um, de per si, arbitrar entre a vida e a morte, sem contudo extinguir a ordem de vida que, por fim, prevalecerá soberanamente. Deste modo, são muitas as manifestações de morte como a tristeza, a angustia por si mesmo ou por outros, as decepções, as frustrações, as desilusões, e outras formas de dor e sofrimento que afetam a carne e a alma (Salmos 18:4-6, 44:21-22; 25: 17-18, 116:3-4).

Contudo, a vida não está dominada pelo caos e morte. Por mais que seja forte, dura ou cruel, a maldade não é absoluta. Não há determinismo no que é consequente. Há uma ordem de vida e não de morte, de alegria e não de tristeza, de esperança e não de desalento. Deus ordenou a vida, Ele é o todo poderoso, o El Shadai (Gen. 17:1), o princípio e o fim, o alfa e o ômega (Apoc. 1:8). Dores, tragédias, angústias e decepções, decorrem universalmente do desajuste à ordem de vida. Inexoravelmente, esta ordem não foi revogada, sua aplicação é válida e possui efeitos imediatos e eternos. Daí decorre o conceito de esperança, expressado nas palavras do temente Jó: "Eu sei que o meu redentor vive" (Jó 19:25).

Em Cristo há esperança. Ele suportou toda dor, decepção, angústia e por fim, a própria morte, mas prevaleceu a fim de subordinar todo poder contrário à ordem de vida (Efésios 1:20-23). Por esta razão, afirma o apóstolo Paulo que agora "permanecem a fé, a esperança e o amor" (I Coríntios 13:13), sentimentos que decorrem da ordem de vida e se manifestam mesmo em meio ao caos.

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