Autor:
Boaz Rios
Não
há nada mais confortante na despedida do que a certeza do
reencontro. Em certa ocasião, mesmo na iminência de uma morte
trágica e dolorosa, Jesus convidou seus discípulos para uma festa.
Montou o cenário e promoveu um generoso momento de comunhão e
celebração. Preparou o local, pediu comidas, bebidas, e honrou aos
seus amigos lavando e enxugando os seus pés. No entanto, o consolo
maior viria nas palavras do Mestre: "Eu
lhes digo que, de agora em diante, não beberei deste fruto da
videira até aquele dia em que beberei o vinho novo com vocês no
Reino de meu Pai" (Mateus 26:29).
Daquele
dia em diante, amigos, seguidores e discípulos vivem a expectativa
do reencontro com Jesus. A referência ao vinho sugere um
acontecimento festivo, alegre, incomparável.
Do
ponto de vista pessoal, a perspectiva de experimentar um prazer
inigualável e duradouro, cria e nutre em mim um desejo único e
inafastável: Desejo beber o vinho novo com Jesus.
Em
um momento anterior Jesus falou sobre os instantes que antecedem a
este momento festivo, nos quais, por conta dos preparativos, há
necessidade de trabalho. A vinha necessita ser cuidada e o vinho
precisa ser produzido. Ele tratou do assunto através de uma parábola
envolvendo três elementos: O Senhor, os dois filhos e a vinha
(Mateus 21: 28-32).
1)
O Senhor da Vinha
A
vinha simboliza o universo, a criação, sendo Deus o dono de todas
as coisas, pois Ele tem a propriedade: "Ao Senhor pertence a
terra e tudo o que nela se contém" (Salmos 24:1). Não vivemos
num abandono interminável. Por mais que observemos destruição e
desamparo na criação, Deus continua sendo o soberano de todas as
coisas, e por fim, exigirá contas aos seus administradores.
Deus,
também, tem o domínio, a direção, o comando: "Nos céus
estabeleceu o Senhor o seu trono, e o seu reino domina sobre tudo"
(Salmos 103:19). Ainda que o mal se levante e pareça indestrutível,
prevalecerá o domínio eterno e onipotente do grande Deus.
Além
disso, O Senhor tem zelo e cuidado com a sua criação: "Quando
treme a terra com todos os seus habitantes, sou eu que mantenho
firmes as suas colunas" (Salmos 75:3). O que seria
de nós se Deus descansasse do seu cuidado?
Contudo,
Ele convida a todos a participarem de sua obra. O Senhor da vinha na
parábola, chamou aos dois filhos propondo-lhes que fossem realizar o
trabalho necessário. Mais do que um encargo, deve ser um prazer
sentir-se parte de uma obra tão maravilhosa. Assim, afirma o
apóstolo Paulo quando nos convida: "Sedes firmes, inabaláveis
e sempre abundantes na obra do Senhor (I coríntios 15:58).
2)
A Ordem, o encargo
Para
a colheita de bons frutos, é preciso cuidar da vinha. O lavrador
olha para a terra ociosa e já antevê a colheita dos frutos,
contudo, sabe que é necessário muito trabalho e cuidados com o solo
e a plantação. Ele pode ter uma boa terra, uma boa semente, mas se
não se dispor ao serviço os resultados serão desastrosos.
O
Senhor chamou aos dois filhos passando-lhes o encargo de cuidar da
vinha. O trato com a plantação era vital para a colheita de bons
frutos e a produção de um bom vinho. A ordem partiu de quem tinha
autoridade, foi transmitida com clareza e em momento oportuno. Por
consequência, parece óbvio que deveria ser atendida por ambos os
filhos, porquanto, agradaria ao Pai e garantiria produção,
sustento, prosperidade e alegria.
Na
vida, participamos do esforço do Criador para a restauração de
todas as coisas. O interesse divino inclui a busca pela perfeita
harmonia do homem consigo mesmo, com Deus e com toda a criação.
Neste encargo seremos vitoriosos se cooperarmos com Jesus Cristo na
sua missão: "assim como
Cristo amou a igreja e entregou-se a si mesmo por ela para
santificá-la, tendo-a purificado pelo lavar da água mediante a
palavra, e apresentá-la a si mesmo como igreja gloriosa, sem
mancha nem ruga ou coisa semelhante, mas santa e inculpável"
(Efésios 5:26,27).
O
Encargo, portanto, expressa o desejo revelado em Cristo de restaurar
todas as coisas, seres viventes e toda a criação (Romanos 8:19).
Somos convidados a participar honrosamente da valiosa missão: Ir à
vinha, cuidar dela e se preparar para o reencontro com o Mestre.
3)
Os filhos: faces da diversidade
Nesta
parábola o mestre Jesus Cristo demonstra existir diversos
comportamentos entre os filhos. Todos recebem a mesma ordem, no
entanto, reagem de maneiras diferentes. Os pais, geralmente, sabem
que os filhos são diferentes e se comportam de formas distintas.
Quanto
ao chamado de Deus aos homens e mulheres, são estes os
comportamentos possíveis:
a)
O impenitente declarado e assumido - Rejeita completamente a
autoridade do Pai e, deliberadamente, não o obedece;
b)
O impenitente vacilante, inconstante e indefinido - Reconhece a
autoridade do Pai, mas não o obedece, pensando estar agradando-lhe
somente com meras palavras: O Filho disse que iria à vinha, mas não
foi;
c)
O penitente - Arrependido, cônscio dos seus erros e disposto
a corrigi-los. Muda de atitude dispondo-se a cooperar.
Concluindo:
Participar
da festa e beber o vinho novo com Jesus, é infinitamente prazeroso e
desejável. O Pai, Senhor da vinha e da vida, tem a propriedade,
autoridade, domínio e zela por sua criação. A missão já foi
revelada e todos são chamados a cumpri-la. No entanto, é preciso um
autoconhecimento: "analise, pois, o homem a si mesmo, e como do
pão e beba do vinho, pois quem come e bebe sem discernir o corpo,
comerá juízo para si" (I Coríntios 11:28). É preciso atitude
a exemplo do filho pródigo: "Levantar-me-ei e direi: Pai pequei
contra o céu e diante de ti" (Lucas 15:18). É preciso trabalho
e persistência, inspirados nas palavras do Mestre, quando diz:
"Ninguém que põe a mão no
arado e olha para trás é apto para o Reino de Deus"
(Lucas9:62). Enfim, participaremos de um momento único,
porém eterno, de alegria extasiante, contudo, totalmente sóbria.
Tudo isso me faz concluir: Quero beber vinho novo com Jesus.