segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Discurso: Formatura de Direito


Orador: Boaz Rios

Ilustríssima Prof. Dra. Denise Barreto, neste ato representando a direção Geral da FAINOR; Ilustríssima Profa. Dra. Luciana de Oliveira Figueira, que empresta seu nome à esta turma; Ilustríssimo Dr. Gutemberg Macedo Júnior, presidente da OAB Seção de Vitória da Conquista e patrono da Turma; Ilustríssimo Prof. Dr. Frederico Silveira e Silva, paraninfo da turma. Queridos pais, mães, filhos, familiares, professores e funcionários da FAINOR, bem como, todos os amigos e amigas aqui presentes... Boa noite.


Por certo, não estaríamos desfrutando deste momento festivo se não fôssemos alvo da proteção e benção divinas. Como bem disse o salmista bíblico, os olhos de Deus nos viram ainda informes, pois tudo o que hoje somos, já estava descrito no livro eterno. Por esta razão, as incertezas do futuro não nos angustiam, pelo contrário, aguardamos esperançosos pela revelação da graça de Deus sobre nós, cuja manifestação será abundante extrapolando todas as expectativas humanas, porque Deus é o autor e doador da vida. A Ele toda glória e toda honra.
Este é um sonho que se tornou realidade, e não foi inspirado somente nos corações dos formandos. Pais e mães sonharam juntos, esposas e esposos esboçaram seus desejos, filhos e filhas partilharam, irmãos e irmãs se entusiasmaram, enfim, todos os mais íntimos, os mais próximos, os que formam algo que chamamos amorosamente de família. Todos esses incentivaram, estimularam e, se pudessem, com certeza, seriam capazes de até nos transportar ilesos para este momento de vitória. Por isso, querida família, nossa eterna gratidão.
sonho coletivo, também, se realizou na companhia fraterna de amigos e amigas. No caminhar solidário que compreende a repentina falta de ânimo, o escasso tempo de folga por conta dos fichamentos, trabalhos, seminários, estágios e, ainda mais, suportaram o desespero insuperável que antecede à semana de provas.  É certo que as verdadeiras amizades persistem na busca da felicidade mútua, como bem afirmou Platão: A amizade é uma predisposição recíproca que torna dois seres igualmente ciosos da felicidade um do outro. Portanto,  a amizade capaz de tolerar várias adversidades, não desfaleceu - vejam quantos amigos estão conosco nesta noite - e como são tão importantes para nós, compartilhamos este momento demonstrando o sincero carinho que temos por todos. Aos amigos e amigas, um abraço de coração.  
Quando era mais jovem assisti ao filme "Ao Mestre Com Carinho". Ali o obstinado professor acreditou na educação dos jovens alunos que, por revolta ou rebeldia, desistiram da vida. Lembro-me daquele enredo com o propósito de homenagear aos mestres que se dedicaram na árdua tarefa de ensinar, que não se conclui na simples transmissão de conhecimento, mas somente se completa quando o aluno se apropria da verdade e se liberta do vínculo de dependência, passando, a partir de si mesmo, a analisar e questionar aquilo que lhe foi posto como verdade. Então, persigamos sempre a verdade, como bem afirmou o mestre Jesus Cristo: E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará.
Foram muitos os mestres, diversos perfis e comportamentos, alguns sorridentes e outros um pouco mais carrancudos; alguns rápidos, decididos, e outros, mais vagarosos, cautelosos e tolerantes. Não importa, cada um, na sua prática pedagógica, nos conduziu pelos degraus do Direito a fim de que chegássemos ao patamar de bacharéis, e muito mais, certamente se alegrarão ao nos encontrar na lida jurídica cotidiana, nos afazeres diários dos operadores do direito em favor da justiça. Como são muitos, os que neste ato são homenageados pela turma representam o conjunto do colegiado de direito da FAINOR.
Homenageamos o prof. Dr. Gesner Lopes. Podemos dizer que o prof. Gesner dá trabalho, ou melhor, leciona a disciplina de trabalho com muito zelo e dedicação, o fato de elaborar diversos modelos de provas para a mesma turma é claro que perturbou um pouco aos alunos mais afoitos e curiosos, mas isto, somente exemplifica o desejo do prof. Gesner por nosso aprendizado (Palmas); Homenageamos a profa. Dra. Micheline Flores Porto, pela sua simpatia em nos ensinar os caminhos da justiça conciliadora, e com ela, nós homenageamos todas as professoras e formandas que aliam a dedicação jurídica ao amor maternal (Palmas); Homenageamos ao prof. Dr. Paulo Cezar Borges Martins, nosso amigo PC, ao qual coube a difícil tarefa, desempenhada com brilhantismo, de nos apresentar os pensadores do direito. Não poderia esquecer da Teoria egológica de Carlos Cóssio que considera o direito um objeto cultural, composto de um substrato, que é a conduta em interferência intersubjetiva, e de um sentido, que é dever de realizar um valor. São esses valores, ensinados pelo prof. Paulo César, que fazem com que persigamos o direito sempre com a sensação da prevalência da justiça (Palmas); Homenageamos a prof. Dra. Pollyana Pedreira Silva, que mesmo deixando repentinamente o convívio acadêmico, marcou a turma com o seu jeito carinhoso e sua conduta exemplar no entendimento e discussão do direito penal (palmas); Homenageamos ao prof. Dr. Ronaldo Soares, este é o cara que ensina como se estivesse tomando um chopp ou toma um chopp como se estivesse ensinando, tanto faz. Temos a certeza que em qualquer lugar ou a qualquer tempo que o encontrarmos teremos nele um amigo (palmas); Por fim, homenageamos ao prof. Dr. Washington Luiz Maciel Coutinho, que no sacrifício da sua lida judiciária e pessoal, encontrou um tempinho, e um espaço em seu coração, para repartir conosco mais do que a simples aplicação da lei, mas a sua interpretação quando analisada no caso concreto, no contexto social, ponderando os valores e cultivando a solidariedade (palmas).
Agora, quero voltar a atenção para nós, formandos. Foram cinco anos que passaram com muita rapidez. Os primeiros dias foram de grande expectativa, e, às vezes, o novo nos deixou apreensivos. Qual a razão de estarmos ali? O que pretendíamos? Para que tanta leitura, tanta história do direito, conhecer tantos pensadores, escritores e juristas? Sobrevinham sobre nós sentimentos de impotência ou indefinições. Foram muitas as inquietações... Deus sabe e, às vezes, algumas mães e amigos ouviram vozes perturbadas, confusas e chorosas. 
Estamos distantes de sermos um grupo homogêneo, e exaltamos a existência desta diversidade. Viemos de muitos lugares, de perto e de longe; somos de diferentes idades e, portanto, com histórias de vida completamente distintas; Nossos comportamentos em sala de aula são peculiares: alguns extremamente organizados, canetas de várias cores e atenção redobrada naquilo que o professor estava ensinando; outros, embora também comprometidos, sequer possuíam caderno ou caneta. Alguns não gostam de falar nos seminários, outros, falam "pelos cotovelos". Alguns não se importam muito com as notas, outros, no entanto, reclamam até por um décimo de ponto. Ressalte-se que as diferenças são importantes porque enunciam a pluralidade, numa afirmação inequívoca de que não é preciso moldar as pessoas, mas simplesmente, amá-las.
Então, não obstante às nossas singularidades, firma-se um convívio respeitoso, fraterno, solidário e harmonioso. Sempre com muita receptividade e tolerância, construímos esta relação de companheirismo e colaboração mútua que perdura, solidificando os vínculos de amizade  guardados afetuosamente. É certo que vivemos momentos difíceis, raríssimas crises de convivência, dificuldades financeiras, como também, fomos submetidos a todo tipo de provas: escrita, oral, subjetiva ou objetiva e, por fim, ao tão temido exame da OAB. Em todos esses momentos a graça de Deus nos conduziu ao equilíbrio e ao triunfo. As vitórias, no entanto, são somente prêmios do percurso, recompensas recebidas durante a jornada que continua e guarda inúmeros desafios. 
Esta é a palavra: desafio. Somos desafiados a não parar, a sermos agradecidos pelo pão cotidiano, mas, ao mesmo tempo, nunca esquecer de ambicionar o eterno e inesgotável reino de Deus. Somos desafiados a buscar o melhor resultado para as nossas causas, contudo, ainda mais desafiados a promover o bem, a justiça e a vida. Somos desafiados a lutar e sermos felizes na carreira, contudo, a nunca desprezar as pessoas, pois, como diz Soren Kierkegaard, a felicidade é uma porta que se abre para fora. Somos desafiados a sermos operadores do direito, contudo, a nunca nos esquecermos da justiça, posto que a justiça humaniza o direito, logo, não seremos somente operadores do direito, mas, sobretudo, apaixonados pela justiça.
No intuito de finalizar, convido todos a refletirem sobre o valor da vida relembrando as palavras do apóstolo Paulo ao enfatizar a persistência de três virtudes: a fé, a esperança e o amor. Portanto, estimáveis colegas, e todos aqui presentes, sejamos esperançosos quanto ao direito, ao governo, às pessoas e à vida, pois como afirmou Mário Quintana, "Viver é acalentar sonhos e esperanças, fazendo da fé a nossa inspiração maior. É buscar nas pequenas coisas, um grande motivo para ser feliz!".
Tenhamos fé, pois poderá ocorrer que os ventos não soprem favoravelmente, e as circunstâncias pareçam adversas. Então, precisaremos olhar fervorosos para Deus, para que superemos as limitações temporais e ampliemos a nossa visão a fim de compreendermos os caminhos eternos. 
Nada, contudo, supera o amor. O entendimento legal e jurisprudencial já acentua a necessária observância do direito ao afeto que, embora numa amplitude menor que o amor, garante a convivência e a harmonia social. No amor, sobretudo, todas as virtudes se aperfeiçoam, como diz o escritor bíblico, o amor é o caminho sobremodo excelente, no qual não persiste alegria na injustiça, mas deleite com a verdade. Então, que possamos amar a todos, inclusive aos que nos perseguem, e assim, nos aproximarmos daquele que é todo amor e justiça, e pelo espírito divino, frutifiquemos em toda bondade, tolerância, paz e solidariedade.