quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Que darei ao Senhor?

Boaz Rios

Dar um presente a alguém não é tarefa aparentemente fácil. Envolve um conteúdo emocional além de fatores como conhecimento sobre a pessoa, condições financeiras, desprendimento pessoal, empatia, dentre outros.
Para presentear fica sempre a preocupação sobre de que forma prestar homenagem. O salmista Davi se preocupou com isso: "Que darei ao Senhor por todos os benefícios que tem feito para comigo" (Salmos 116:12).

Qual a razão desta preocupação? O que moveu o seu coração, qual a intenção do Salmista em fazer este questionamento? Seria insegurança, desconhecimento sobre a pessoa de Deus, insuficiência de recursos?
Talvez a preocupação de Davi em relação a Deus também exista em nós. Será que sentimos o desejo de honrar a Deus e não sabemos de que forma? O que poderia ajudar neste processo?
Vale ressaltar, em primeiro lugar, a necessidade de procurar conhecer a pessoa a quem quer presentear. Conhecer o gosto, a necessidade, o tamanho, as cores, enfim, todas as informações que facilitem identificar aquilo que satisfaça ao homenageado.
Quando não se tem nenhuma informação, o resultado da homenagem será sempre uma incógnita, um pulo no escuro. Será que vai agradar? O que agradaria a Deus? O que seria bastante para aquele que é Senhor de tudo, dono de tudo e de nada necessita?
Conhecer a Deus é importante e necessário. Será o que lhe agrada? Seria esta a questão que preocupa o salmista quando perguntou: "Que darei ao Senhor"?
No terrível episódio envolvendo os irmãos Caim e Abel, a bíblia relata que Deus não se agradou da oferta de Caim, pois ele não lhe conhecia, não sabia o que lhe agradava. Veja como Deus argumentou com Caim: "Porque decaiu o teu semblante? Se procederes bem não é certo que serás aceito? (Gênesis 4:6).
É necessário buscar conhecer a Deus, assim como afirma o profeta Oseias: "Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor" (Oseias 6:3).
Outro ponto a ser observado é que pode-se conhecer a Deus, saber do que gosta ou aquilo que lhe agrada, contudo não ter ou acreditar que não tenha, condições para ofertar. O presente pode ser oneroso, valioso, difícil para ser doado, incorrendo numa limitação pessoal no ato de dar, um sentimento de incapacidade de ordem física, material, financeira, emocional, etc.
Talvez teria sido este o problema aventado por Davi naquele momento em que perguntava o que daria à Deus. Estaria no dilema de saber o que deveria dar, como deveria agradar a Deus, mas não se sentir capaz de fazê-lo.
Certamente, em termos materiais, caso surgisse o desejo de dar a Deus algo tão oneroso que fosse impossível fazê-lo, ficaria o dilema por toda a vida: Que darei? O que farei? Como lhe agradarei? No entanto, certamente, tal dilema seria por falta de conhecimento sobre Deus, pois Ele não exige mais do que se pode dar, isto não lhe agradaria.
Contudo, até naquilo que se dispõe, persiste a sensação de incapacidade em agradá-Lo. Há indisposição em abrir mão de valores, de bens ou qualquer outro tipo de patrimônio. Há indisposição em ofertar tempo, habilidades e talentos. Há indisposição em comprometer as emoções, pois existem outras prioridades, outros desejos, outros diferentes deuses aos quais as homenagens são prestigiadas.
Desta forma, persiste a incapacidade, real ou deliberada, em não procurar agradar a Deus, até mesmo quando se deseja fazê-lo.
Outro aspecto essencial no ato de presentear a Deus é o envolvimento pessoal do doador. Não importa o tamanho, a cor, o valor ou características do presente, desde que venha com o nome, a essência, a vida do doador.
No mesmo texto o salmista Davi declara: "tomarei o cálice da salvação". Esta era a resposta ao seu questionamento inicial. O que ele precisava fazer era se envolver, se entregar, ofertar-se a si mesmo. A respeito do episódio entre Caim e Abel, o escritor da carta aos Hebreus informa que "pela fé, Abel ofereceu sacrifício mais excelente" (Hebreus 11:4). A diferença fundamental para a não aceitação não estava no conteúdo da oferta, mas no coração do doador.
Devoção, contrição, temor, obediência, serviço, amor, dentre outros, são alguns dos elementos encontrados na oferta aceita por Deus. Como afirma o salmista, um coração compungido e contrito Deus não despreza (Salmos 51:17). Este é o maior desejo do Pai celestial: "Dá-me, filho meu, o teu coração (Provérbios 23:26).

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